Jovens ativistas criam treinamento em mudanças climáticas para lideranças políticas

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Texto: Stephane Sena

Acelerado pelo Projeto Legado 2021, projeto Clima de Eleição capacitou 400 candidaturas municipais em 2020 e planeja expandir para estados e Distrito Federal em 2022

Como engajar a administração pública em torno das pautas climáticas e da relação entre fenômenos globais e problemas locais? Inquietos com essa questão, um grupo de jovens brasileiros se mobilizou para criar em 2020 o Clima de Eleição, projeto de impacto que começou oferecendo formação em mudanças climáticas para candidaturas do executivo e do legislativo municipal e, agora, caminha para lançar um curso voltado para as pessoas que venceram a última disputa eleitoral e treinar candidaturas dos estados e do Distrito Federal.

“A gente sentia muita necessidade de um trabalho mais ativo das lideranças da administração pública municipal com a agenda de mudanças climáticas, mas a gente percebia que elas não tinham conhecimento sobre como as coisas que estão acontecendo, por exemplo, a crise hídrica em Curitiba, têm relação com o fenômeno global. A partir disso a gente começou a pensar em soluções”, explica o co-fundador do Clima de Eleição, João Henrique Cerqueira. Além de João, a equipe é formada por outros três jovens engajados no tema: Gabriela Baesse, Igor Vieira e Beatriz Pagy.

Treinamento em mudanças climáticas

Oferecido em formato on-line com apostila, materiais complementares e avaliações, o treinamento do Clima de Eleição oferece ferramentas básicas sobre o que é a crise climática, políticas internacionais e nacionais, a relação entre clima e cidades e boas práticas que possam ser replicadas. A divulgação foi feita para os partidos e teve uma adesão surpreendente: 400 participantes de 27 legendas. Desse total, 22 lideranças foram eleitas, a maioria de São Paulo, e assinaram um compromisso pelo clima.

“Além de assinarem um termo de compromisso, essas lideranças têm trabalhado com a gente em um processo continuado de construção e monitoramento de políticas públicas para mudanças climáticas”, complementa Cerqueira. A proposta é fazer qualificação contínua no debate público.

Próximos passos

A partir da primeira experiência nos treinamentos, o grupo de jovens à frente do Clima de Eleição percebeu a necessidade de expandir o programa. “Estamos com processo de capacitação continuada para pessoas eleitas nas cidades, com encontros mensais e conteúdos desde como fazer uso de dados para pensar melhores políticas municipais até como fazer a conexão entre legislativo e executivo”, conta Cerqueira. A ideia é que essas lideranças passem a compor uma comunidade comprometida com a agenda climática, o Mandatos C.  

Em 2022, o projeto também vai atender candidaturas para estados e Distrito Federal. “A gente está no momento de se preparar para as próximas eleições que, na nossa visão, são as mais importantes da nossa história, já que estamos em um momento muito difícil para a agenda socioambiental. Temos necessidade urgente de eleger melhores lideranças em todos os níveis de governo para que sejam minimamente capacitadas para lidar com esse desafio”, projeta o co-fundador do Clima de Eleição. “Através do nosso projeto a gente tem a expectativa de influenciar as dinâmicas das assembleias legislativas estaduais, que são lugares em que a sociedade civil faz pouco advocacy. É uma grande janela de oportunidades”.

Para Cerqueira, a aceleração do Projeto Legado tem sido importante para o amadurecimento do Clima de Eleição. “Estamos nos institucionalizando para ser uma associação, conseguimos fechar financiamentos para o ano que vem e estamos abrindo as primeiras contratações. É um momento muito legal da nossa história”. 

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Planos de governo

O Clima de Eleição também desenvolve pesquisas e cartilhas sobre políticas públicas e mudanças climáticas. Uma delas compara como os planos de governo para as eleições municipais de 2016 e 2020 consideram a crise climática.

A análise consistiu inicialmente na busca de palavras-chave e expressões que comumente efeito estufa, mudanças climáticas, aquecimento global, fenômenos climáticos extremos, aumento de temperatura, ODS 13 e carbono. Depois, foi analisado o contexto em que elas foram citadas para identificar se, de fato, há uma relação com a agenda climática. 

No ano de 2016, 29,61% dos planos registrados no Tribunal Superior Eleitoral, citavam as mudanças climáticas em suas propostas para gestão. Em 2020, essa taxa caiu para 26,03%. Apesar disso, a quantidade de candidaturas eleitas que ao menos mencionaram esse tema em seus planos de governo aumentou de 8 para 11.

Segundo Cerqueira, a pesquisa permitiu fazer avaliações secundárias, por exemplo, quais partidos têm candidatos com mais incidência de agenda climática. “Esses dados são importantes porque geram insumos para fazer estratégias de advocacy”, finaliza. Para saber mais, acompanhe o Clima de Eleição no Instagram.

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