Gestão de organizações sociais: o importante equilíbrio entre o amor à causa e a razão

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Quantas vezes você já ouviu (ou disse) a frase “eu faria qualquer coisa pelo meu filho”? Suponho que muitas vezes. E quantas pessoas fazem de tudo pelo seu filho, mas também fazem muito por tantos outros filhos que passam pela mesma condição que o seu?

Ao longo destes últimos sete anos atuando voluntariamente no setor social, tive o imenso prazer de conhecer pessoas que não se contentam apenas com a solução do seu problema; querem também colaborar com o abrandar da dor de quem está ao lado. Desta vontade nascem também organizações sociais incríveis e aqui utilizarei uma frase de Thomas Jefferson para explicar esse movimento: “quem melhor do que aquele que sentiu em carne própria uma ferida, pode suavemente curar a mesma ferida no outro”. Para corroborar com Jefferson eu poderia citar centenas de pessoas que, a partir da sua dor, transformaram o mundo ao seu redor. Vou me restringir a três exemplos que tive a honra de conhecer em Curitiba.

Inicio com Alexandre Amorim, fundador da ASID Brasil que pensou em quantas escolas precisavam ser capacitadas para poderem receber de maneira adequada mais pessoas com deficiência que, assim como sua irmã, precisavam de uma vaga na escola. Hoje a ASID é referência no país na capacitação e no fortalecimento de instituições especializadas em pessoas com deficiência.

Linda Franco, da Família ALD, também é um exemplo que, mesmo em meio à dor por ter perdido um filho com Adrenoleucodistrofia (doença genética rara retratada no filme Óleo de Lorenzo), não se abateu e luta diariamente pela conscientização da doença, bem como fornecendo ajuda a tantas famílias que precisam.

O terceiro exemplo é o de Silvia Turra Grechinski, que após perder sua irmã fundou a ONG Parceiros do Mar – Surf Seguro – Instituto Renata Turra Grechinski. Renata faleceu em fevereiro de 2012 enquanto surfava com amigos na Barra do Saí/PR, pois enroscou o “leash” de sua prancha em um artefato de pesca clandestina que estava submerso, sem sinalização e colocado em local irregular.

Eu poderia escrever um texto somente citando exemplos incríveis de pessoas que, assim como Alexandre, Linda e Silvia, transformaram o “limão em limonada”, arregaçaram as mangas e foram à luta para auxiliar pessoas que estivessem passando pelas mesmas condições. Eu até me incluiria nele, considerando que após receber o diagnóstico de uma grave doença genética e ainda sem cura (fibrose cística), também fundei uma organização social para que, no fundo, ninguém passe o que passei e não sofra o que sofri durante 23 anos sem diagnóstico.

Mas, mesmo considerando o amor que tenho à bandeira que resolvi carregar, bem como os três exemplos que citei, o que de fato mantém as nossas causas rodando e nossas organizações funcionando? Se você respondeu “o amor à causa”, lamento informar: a resposta não está certa. Naturalmente, não está totalmente errada também. Se eu não amasse o que faço, certamente não teríamos chegado tão longe. Assim como os exemplos que dei, assim como milhares de outras pessoas com histórias incríveis. O amor move, mantém o sangue fervendo e o olho brilhando. Mas o que mantém a estrutura funcionando é a razão. Parece uma colocação fria, mas vou explicar.

Imagine que muito antes de uma determinada indústria familiar de alimentos tornar-se a potência que é hoje internacionalmente, o seu fundador somente fizesse os panetones e biscoitos para as pessoas que amasse; os entregasse ou vende-se em pequenas quantidades, sem traçar uma estratégia de crescimento e expansão de impacto. Provavelmente, você nunca teria comido um Chocotone, nem teria identificado mentalmente de quem estamos falando. Grandes corporações e instituições sociais nasceram pequenas, mas sempre tiveram sonhos grandes – e grandes estratégias.

E é aqui que entra a importância do equilíbrio entre o amor e a razão na árdua tarefa diária de gerir uma organização social. Nós amamos nossas causas e iríamos até o outro lado do mundo para falar sobre ela, sempre pensando que lá pode haver alguém que precisa desta informação. Mas qual é o impacto macro que quero causar? Muito mais do que simplesmente conscientizar a população sobre a fibrose cística, por exemplo, quero que nossas ações impactem diretamente a redução da mortalidade precoce de pessoas acometidas por esta doença. E é por conta deste impacto que desenvolvemos todas as atividades e tarefas que trarão os resultados que busco para atingir objetivos pré-determinados que, por fim, resultarão no nível mais amplo de abrangência que meu projeto quer alcançar. Em gestão de projetos, esse breve descritivo que fiz poderia ser traduzido como marco lógico de um projeto.

Uma vez ouvi a seguinte analogia em uma banca do Projeto Legado, do qual tive a honra de participar em 2014, sobre o impacto que gostaríamos de causar com o projeto que havia acabado de apresentar: “É como se vocês estivessem no “Tocantins”, mas, com este potencial, poderiam chegar à “Lua”. E foi assim, com essa frase, que reescrevi um projeto que até hoje gera imensos frutos no que concerne à educação de futuros profissionais da saúde que, a partir dele, passam a conhecer a fibrose cística.

Portanto, tenha sempre em mente que o amor te mantém firme na jornada, mas que o planejamento e as estratégias te levarão a um patamar ainda maior, talvez ainda nem imaginado. Para finalizar, listei algumas dicas que podem te auxiliar neste processo:

  • Conheça as organizações especializadas em auxiliar e desenvolver organizações sociais e peça ajuda! Exemplos de instituições: Instituto Legado, Instituto GRPCOM, Nossa Causa, Extrato Desenvolvimento Organizacional e INK Inspira.
  • Busque fazer e revisitar constantemente o planejamento estratégico da sua organização. Onde queremos chegar e o que precisamos fazer para isto?
  • Envolva várias pessoas no processo e peça ajuda a pessoas de diferentes áreas
  • Capacite-se sempre! Participe de cursos online, presenciais, fóruns do terceiro setor, e aprenda com quem já está à frente no caminho
  • Tenha indicadores, metas, registre e celebre suas conquistas!
  • E, não menos importante: tenha orgulho do caminho que você já percorreu e do que você ainda tem potencial para criar. Você é incrível!

Por Verônica Stasiak Bednarczuk, psicóloga, especialista em análise do comportamento, gestora de projetos sociais certificada pela APMG Internacional, líder facilitadora pelo Programa Germinar, membro do Grupo Brasileiro de Estudos de Fibrose Cística, fundadora e diretora geral do Unidos pela Vida – Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística.

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