Foi lançada a mais nova edição do Guia 2.5, estudo considerado uma das principais referências sobre o ecossistema de apoio aos negócios de impacto no Brasil. Produzido pela Quintessa com apoio da Pipe Social, o guia traz dados e análises das iniciativas, revelando suas principais características e tendências.
Uma das descobertas desta edição é a mudança no equilíbrio entre as iniciativas voltadas para o desenvolvimento dos negócios de impacto e aquelas focadas no aporte financeiro. Atualmente, 70% das iniciativas estão direcionadas para o desenvolvimento, enquanto 30% se concentram em fornecer aporte financeiro.
Segundo a co-CEO e sócia da Quintessa, Anna de Souza Aranha, também foi percebida uma diversificação de soluções oferecidas. “Quando a gente começou o guia, as organizações tinham um programa e agora vemos mais programas e cada um com uma proposta de valor diferente”, disse ela durante o evento de lançamento do guia. Esta tendência pode ser observada no próprio Instituto Legado, ao criar em 2019 um segundo programa de aceleração, desta vez focado em startups de impacto, o Legado Semente.
Tipo de apoio e estágio de desenvolvimento
Outra mudança se refere ao suporte oferecido. Na edição anterior do Guia 2.5 (2019/2020), o foco dos apoios mais mencionados eram “Rede entre Empreendedores” e “Rede de Mentores”, enquanto nesta edição, surgiram “Desenvolvimento da Gestão dos Negócios” e “Capacitações e Treinamentos”. Quando se trata dos estágios de negócios mais atendidos, o estudo identifica que a maioria das iniciativas de apoio se concentra no estágio de “Tração”, no qual os negócios já validaram seus produtos/serviços no mercado e buscam estruturar sua gestão.
Linha do tempo e perfil das iniciativas de apoio ao setor 2.5
Em uma análise histórica sobre o apoio ao ecossistema de impacto, o Guia observou que o auge do surgimento de iniciativas foi no período de 2011 a 2020. O Instituto Legado de Empreendedorismo Social aparece entre elas, ao criar, 2013 o Projeto Legado, programa de aceleração para organizações, projetos e negócios de impacto socioambiental positivo. Ele aparece como uma das 20 primeiras iniciativas de apoio surgidas no país.
Em levantamento recente, o Instituto Legado apontou que a cada 1 real investido no Projeto Legado, mais 7 reais foram gerados em impacto socioambiental.
Mais notavelmente, de 2019 até 2022, o número de iniciativas de apoio aos empreendedores de negócios de impacto cresceu em 59%, passando de 44 para 70. Destaca-se também a alta quantidade de iniciativas gratuitas oferecidas aos negócios de impacto, totalizando 32, ou seja, 46% do total mapeado pelo estudo. Também é o caso do Projeto Legado, que oferece capacitações e mentorias totalmente gratuitas aos participantes selecionados. Isso é particularmente significativo, considerando os desafios de sustentabilidade financeira enfrentados pelo setor.
Localização
O estudo mostrou que a região Sudeste concentra a maioria das sedes das organizações do ecossistema de apoio, com 37 delas, enquanto as regiões Norte e Centro-Oeste possuem menos sedes, com três e duas, respectivamente. No entanto, cerca de 66% das iniciativas oferecem suporte a negócios de todos os estados do Brasil, demonstrando uma abordagem não restritiva em termos territoriais.
Diversidade na equipe
No que diz respeito à presença feminina no time, o Guia 2.5 indicou que em 65,5% das organizações que oferecem apoio aos negócios de impacto mais de 50% do time é formado por mulheres. Por outro lado, a diversidade racial ainda está aquém do esperado.
“Já quando a gente olha para a raça, a maioria das organizações têm entre 12,5% e 25% de colaboradores negros. Isso é um ponto que chama atenção justamente porque acaba refletindo em outros aspectos, quais são os negócios aportados na medida em que seu time tem essa desigualdade”, comentou a gestora de aceleração da Quintessa, Bárbara Ferreira, comparando o indídena de pessoas negras nas organizações com o índice de brasileiros autodeclarados negros (pretas e pardas) no Censo IBGE de 2010, o que abrange 50,94% da população.
Desafios e possíveis soluções
Os atores do ecossistema de impacto apontaram desafios e sugestões de soluções para o setor. Entre os desafios identificados estão a disseminação do conceito e dos conteúdos, a necessidade de recursos financeiros, o fortalecimento das redes e conexões, o advocacy em prol do setor e o aumento do apoio aos negócios de impacto.
No que diz respeito à disseminação do conceito e dos conteúdos, algumas sugestões incluem fomentar e disseminar o formato de Venture Philanthropy, tornar o conceito de negócio de impacto mais acessível a diferentes contextos brasileiros, evidenciar o retorno financeiro do setor para investidores e mapear negócios locais que ainda não se identificam como negócios de impacto.
Para atender à necessidade de recursos financeiros, as sugestões incluem o desenvolvimento de editais e linhas de crédito público, a ampliação do capital paciente com blended finance e o aumento da oferta de capital para negócios em estágio de early-growth.
No que se refere ao fomento a redes e conexões, as sugestões envolvem formar parcerias, coalizões e redes locais, integrar dinamizadores e empresas do setor de impacto, compartilhar conhecimentos de forma estruturada e promover networking para enfrentar desafios comuns.
Quanto ao advocacy, as sugestões incluem retomar a Estratégia Nacional de Economia de Impacto e o Comitê de Economia de Impacto (Enimpacto), cuja finalidade é articular órgãos e entidades da administração pública federal, do setor privado e da sociedade civil para a promoção de um ambiente favorável à economia de impacto; formalizar o conceito jurídico de negócios de impacto no Brasil e construir um comitê focado em políticas públicas para o setor.
Por fim, para atender à necessidade de maior apoio aos negócios de impacto, as sugestões incluem o fomento ao desenvolvimento de novos negócios de impacto e a inclusão de mais pautas de vendas e modelos de negócios para esses empreendimentos.
Texto: Stephane Sena
