Iniciativa de Paranaguá (PR) percorre o município com uma kombi e oferece oficinas educativas e culturais para crianças da região
Conhecimento; Cooperação; Cultura; Comunidade; Conscientização. Esses são os 5 cês, ou melhor, os valores da organização 5C – Centro Cultural Cecília Correia de Carvalho. O pedagogo João Costa Junior decidiu iniciar o projeto após perder seu primo, morto com oito tiros por envolvimento com o tráfico de drogas. A vontade de fazer com que outras crianças não tivessem o mesmo fim trágico é o que move João. Em 2015, ele fundou a ONG para oferecer oficinas musicais, esportivas e educativas para crianças de até 12 anos na Vila São João, em Paranaguá (PR). Em 2021, ele adaptou a ideia e hoje circula pela região dentro de um Kombi levando uma versão itinerante do 5C para crianças de toda a cidade.
Tudo começou no quintal da casa dos pais de João. É lá que ele reunia cerca de 60 crianças todos os sábados. O pedagogo contava com o auxílio de voluntários para dar conta de todas as crianças. Esses voluntários eram as próprias crianças, que ao fazerem 13 anos passavam a ajudar no projeto. Além das oficinas, festas aconteciam periodicamente na organização, na qual aproximadamente 250 crianças participavam. Nesses dias, a ajuda aumentava e pessoas vindas de diversas cidades chegavam a Paranaguá para serem voluntários.
As oficinas oferecidas no Centro Cultural eram das mais variadas e passavam de 30. As crianças podiam experimentar desde esportes até teatro. As esportivas ensinavam futebol, vôlei, basquete, esgrima e jiu-jitsu. Para quem curtia música, era possível aprender a tocar violão, teclado, flauta, e percussão. Já as oficinas educativas contavam com leitura, escrita, teatro e dança.
Projeto Legado foi essencial na ampliação da organização
O 5C foi um dos mais de 270 projetos que passaram pelas mentorias do Legado. Em 2017, a iniciativa foi a vencedora do Prêmio Legado e o idealizador afirma que a capacitação mudou o pensamento da organização. “Antes do Legado nós não pensávamos grande e não pensávamos em ampliação. Era algo muito caseiro. O principal foi a gente se entender como uma empresa e, a partir daí, ampliar esse sonho. Antes, era só realizar atividade para crianças do bairro, mas com o Legado tivemos uma ampliação de horizontes e vimos que era possível levar o 5C para todos os cantos”, explica.
O 5C já possuía o sonho de se ampliar e poder atender mais crianças, mas apenas com as capacitações desenvolvidas no Projeto Legado que isso se tornou realidade. Antes de todas as mentorias e aprendizados, a organização atendia oito crianças, um número muito menor do que atende hoje.
Cine 5C leva cultura para crianças em situação de vulnerabilidade
A princípio, o projeto de expansão era construir um banheiro, porque as crianças que participavam do projeto tinham que utilizar o banheiro da casa dos pais de João. A ideia era ótima e seria muito bem recebida pelas crianças, mas nem foi necessário utilizar o valor do prêmio para realizá-la. O projeto foi alcançado bem antes. “Com a capacitação do Legado, conseguimos construir esse banheiro sem precisar do prêmio”, explica.
A equipe do 5C perguntou às crianças sobre várias questões, e uma delas era de quantas vezes elas já tinham ido ao cinema. Cerca de 90% nunca tinham ido, então o plano de expansão mudou seu rumo, como explica o pedagogo. “A proposta para o Legado foi construir um cinema na própria organização. Inauguramos em 18 de agosto de 2018, com o filme “Improváveis”, produzido, encenado e editado pelas próprias crianças”. A estreia do cinema foi um sucesso e contou com a presença de grandes nomes do empreendedorismo social.
Sensação de dever cumprido
Um dos momentos mais marcantes, segundo João, ocorreu quando 12 alunos de uma Universidade da Califórnia e de Harvard realizaram um turismo social ao Brasil e passaram por algumas organizações, entre elas o 5C. “Um dos nossos voluntários pediu a palavra e contou que queria agradecer porque tínhamos convidado ele para ser voluntário e não o tínhamos julgado pela aparência ou forma de se vestir. Depois, ele contou que no dia que foi convidado portava uma arma e estava drogado, mas que depois de ter contato com as crianças se viu no dever se não participar mais do crime e ser bom exemplo para elas. Fazia 2 anos que ele estava com a gente”, relembra Costa. “No dia, eu recordei do meu primo. A organização foi fundada porque eu perdi alguém para o tráfico de drogas e naquele dia tive o dever cumprido. Uma pessoa tinha saído desse mundo por conta do envolvimento com a ONG”, completa.
5C na kombi alcançará crianças da rede municipal
Dentre os diversos planos para o futuro do 5C, um deles já está sendo posto em prática, que é o de adaptar as oficinas e as levar na kombi, que carinhosamente foi apelidada por Costa de “Dançarina”. O que antes acontecia apenas no Centro Cultural vai passar a percorrer as escolas municipais da cidade de Paranaguá. A perspectiva é atingir, por ano, cerca de 2 mil crianças do 5º ano do ensino fundamental. O automóvel é equipado com livros infantis, atividades musicais e cinema. Em cima da kombi é possível abrir o telão e exibir alguma produção, entre elas o filme ‘Improváveis’.
Duas escolas por mês serão contempladas com a visita e os alunos ainda terão a oportunidade de conhecer a história da organização e aproveitar para se inspirar. “São pré-adolescentes que estão se formando no 5º ano e que no próximo ano estarão no ensino estadual. Vão ter contato com os 5 cês e, principalmente, a prevenção contra as drogas”, destaca.
Livro ‘Como transformar o mundo’
João sempre teve o sonho de escrever um livro contando sua história. Neste ano, o projeto avançou e ganhou corpo. O empreendedor social acaba de lançar ‘Como transformar o mundo’, publicação que fala sobre sua trajetória, motivações para fundar a ONG, impacto gerado na comunidade e os valores do 5C. “Eles surgiram como resgate das minhas memórias de infância, uma conexão comigo mesmo que contribuiu para formar meu caráter. Ou seja, para você transformar o mundo, precisa primeiro transformar a você mesmo, se conectando aos seus valores mais profundos”, escreve João.
Para continuar as ações sociais voltadas ao público infantil, a cada exemplar do livro vendido, duas versões ilustradas serão doadas para o sistema público de ensino. Para adquirir o livro é necessário entrar em contato com a organização pelo perfil de suas redes sociais.
