O autocuidado e o empreendedor social

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Por Gláucia Marins*

A Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que uma em cada oito pessoas vive com algum tipo de transtorno mental. O Brasil é o país com maior número de pessoas ansiosas, representando 9,3% da população, o que representa cerca de 18 milhões de brasileiros — e as mulheres são mais suscetíveis a serem diagnosticadas com depressão, apresentando duas vezes mais chances de terem diagnóstico do que os homens.

As causas podem vir de várias fontes e os sintomas variam de acordo com a pessoa, mas apresentam-se geralmente como preocupação constante, medo irracional, palpitação, falta de ar e, quando já em quadro avançado, em síndromes comportamentais, como a do pânico. Sabe-se, também, que as mídias sociais estão diretamente ligadas ao fenômeno do acréscimo de ansiedade entre crianças e adolescentes.

Augusto Cury chama de “Síndrome do Pensamento Acelerado”, a mente agitada, repleta de pensamentos, com excesso de informações, ritmo acelerado de trabalho, muitas expectativas, causando enorme dificuldade de concentração, inquietação, desgaste da saúde física e mental, impaciência, baixo nível de tolerância, ou seja, um ser humano totalmente disfuncional.

Os empreendedores sociais, por natureza, são pessoas empáticas, têm por objetivo resolver um problema social ou ambiental, num ambiente repleto de adversidades. Não sendo o lucro financeiro o seu objetivo principal, torna-se bem mais complicado estabelecer um grau de satisfação padrão e, na maior parte das vezes, uma pequena conquista aos olhos leigos é um enorme passo para o empreendedor social. Aqui já podemos destacar alguns pontos: a sociedade, a família e os amigos, muitas vezes, não conseguem entender o que fazem e o porquê de se desgastarem tanto por tão pouco.

E é nesse momento que percebemos (me incluo como empreendedora social) a enorme importância do autocuidado conosco e com nossa saúde mental. Se a família não entende o que fazemos, se os amigos não aderem às nossas ações ou expectativas, se os recursos financeiros não chegam por falta de compreensão da importância de nossas causas, a baixa estima surge com muita força. E, no entanto, somos muitos e o que fazemos é de extrema importância para que o mundo seja melhor, mais empático, mais diverso, menos desigual, mais ecológico e mais habitável. 

Rede de apoio e caminhos para o autocuidado

A importância da rede e no nosso caso, da Rede Legado, consiste nesse apoio e nessa possibilidade de troca de ideias, de conforto, de poder entender que não estamos sós. No Projeto Legado, já incluímos diversos módulos que trabalham autoestima, autoconhecimento e formas de equilibrarmos nossas emoções, a fim de podermos dar nosso melhor sem nos destruirmos de ansiedade, estresse e, em casos mais severos, depressão. 

 O autocuidado consiste em algumas práticas que visam cuidar da saúde mental e do bem-estar emocional. É uma forma de autoamor e autoconhecimento. Precisamos entender nossos limites, aprender a dizer não e, principalmente, tentar sempre manter a vibração alta. Aqui vão algumas dicas: 

  1. Reconhecer e atender às próprias necessidades emocionais (se você não está bem, como vai entregar o melhor de si?); 
  2. Ser mais bondoso consigo mesmo, evitando a autocrítica não produtiva; 
  3. Reservar um tempo para si, para meditar, respirar, relaxar o corpo; 
  4. Praticar algum exercício físico, ainda que uma caminhada;
  5. Respeitar seus limites
  6. Anotar diariamente pelo menos três coisas pelas quais é grato, coisas boas que aconteceram no dia (nosso dia é feito de muito mais coisas boas que ruins, mas as ruins sempre tomam a prevalência, pois não estamos habituados ao pensamento de gratidão) e, por fim; 
  7. Escrever o que sente, o que angustia, o que ama, pois o ato de escrever nos libera para novas emoções e experiências.


No ano de 2024, o Instituto Legado ofereceu em seu espaço, de forma gratuita, oficinas sobre os Objetivos de Desenvolvimento Interior (ODI) e também curso de 12hs do Cultivating Emocional Balance (CEB), além de outras atividades nas quais tratamos de todos esses pontos e de práticas que levam ao caminho do autocuidado. 

No entanto, nos surpreendeu a baixa adesão dos empreendedores sociais da rede. Isso acendeu uma enorme luz vermelha no nosso radar: os empreendedores sociais não perceberam a necessidade do autocuidado. A falta de tempo é a maior queixa. Mas se esse tempo não for entendido como saúde mental, então não apenas os alarmantes números da OMS tendem a aumentar, como nossos empreendedores sociais tendem a adoecer severamente.

Sabemos que não é fácil e nem simples, pois somos educados e habituados a trabalhar de fora para dentro, no entanto, conforme começamos a nos ouvir, a nos conhecer, começamos a nos amar cada vez mais, a nos cuidar e a ter mais qualidade naquilo que, como empreendedores sociais, nos comprometemos a entregar: um mundo mais empático, compassivo, saudável, harmonioso e amoroso. Pois é para isso que trabalhamos e esse é o nosso propósito.

*Gláucia Marins está vice-presidente do Instituto Legado, é replicadora do programa Cultivating Emocional Balance no Brasil e pós-graduada em Gestão Emocional nas Organizações.

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