Instituto Barco Sorriso leva tratamento odontológico para moradores de região no Paraná, mudando suas vidas, saúde e sorrisos
Tudo começou quando Lorayne Claudino participou de uma ação voluntária de Dia das Crianças na região de Guaraqueçaba (PR). O intuito era levar doces e brinquedos, mas durante a visita, a advogada e produtora cultural percebeu que as crianças estavam com os dentes pretos por conta de cáries.
“Eu encontrei um menino e ele disse que não conseguia comer doce porque o dente estava doendo. Não consegui pensar em outra coisa depois disso. Voltei para Curitiba (PR) pensando que precisava fazer alguma coisa”, conta Lorayne, que após esse momento começou a correr atrás de mais profissionais para iniciar uma jornada que, mesmo sem ela saber, mudaria vidas.
“Fiz um anúncio no Facebook convidando os ‘dentistas loucos’ que pudessem acreditar em alguma forma de fazer dar certo e eu encontrei”. É assim que Lorayne descreve o começo de tudo. As dificuldades eram muitas, já que além do local ficar há 3 horas e meia de Paranaguá (PR), o percurso tem que ser feito de barco. Isso sem contarmos o deslocamento da capital paranaense até o porto de Paranaguá (PR). A primeira ida aconteceu em outubro de 2013, com 20 pessoas. Nessa visita, conseguiu-se fazer pouco, já que a infraestrutura para o atendimento não era das melhores.
“Uma coisa super importante do projeto é que, desde o começo, sempre foi de muito coração, sempre fizemos por muito amor. Tudo sempre foi 100% voluntário, nunca tivemos conexão com nenhuma empresa, igreja ou político, sempre foi muito autêntico. Então, acho que isso é uma coisa que a gente tenta passar sempre. É muito amor, tanto que a nossa frase é ‘O amor une’, para nós é muito importante”, relata Lorayne.
Os anos passaram e o que começou de forma simples, com apenas a aplicação de um remédio para cáries, evoluiu para extração de dentes, realização de canal, Raio-X e até mesmo a possibilidade de fazer próteses dentárias. Hoje, mais de 4 mil atendimentos já foram realizados pelo Barco Sorriso. “Começamos só com crianças, mas a necessidade do lugar era muito grande para adolescentes, adultos e idosos, então estendemos”, comenta a fundadora.
Projeto Legado e a compreensão como instituto
A passagem pelo Projeto Legado, em 2017, foi essencial para a formalização do negócio e para o entendimento de que ele deveria ser um instituto. “Acho que até o Legado nós éramos bem informais e não éramos ainda um instituto. Tínhamos uma característica muito pessoal, porque éramos amigos que tinham se unido para fazer algo. Depois do Projeto Legado, percebemos a importância de se formalizar e de ser mais empresarial. O processo fez com que a gente conseguisse ampliar muito mais nossos atendimentos, podendo impactar muito mais a região, além de possibilitar que tivéssemos melhores contatos, enfim, foi excelente. A formalização em si e tudo que veio com ela foi o que transformou a gente, sem dúvida nenhuma”, explica a idealizadora do projeto.
O plano de expansão do Barco Sorriso no Projeto Legado era a formalização, o que aconteceu em 2018 por conta de características únicas do projeto. Lorayne conta que por ser um projeto inovador, demoraram algum tempo para conseguir definir o estatuto que mais combinasse com o modelo de atuação. A quantia ganha com o prêmio foi usada para a contratação de um advogado e para arcar com todos os custos da formalização. Após isso, os números de captação de recursos financeiros e de equipamentos aumentaram.
A outra parte da expansão era transformar o projeto em uma ideia mais consistente e transformar o Barco Sorriso em uma franquia social, expandindo os atendimentos para outras regiões. Em 2021, o Instituto realizou a primeira ação em terra e foi na comunidade Portelinha, em Curitiba (PR). Os voluntários prestaram atendimentos para os moradores da região. Para o futuro, a fundadora do Instituto conta que os planos são de expansão para o Rio de Janeiro.
Muito mais do que a saúde bucal
Assim como muitas organizações, o Barco Sorriso enfrentou desafios com a pandemia. Não tinham como realizar os atendimentos à distância, tinha que ser pessoalmente, mas naquele momento, a região tinha outras necessidades a serem resolvidas. Foi então que a organização tomou uma iniciativa para ajudar os moradores da região de Guaraqueçaba (PR), como conta Lorayne. “Eles passaram por uma situação muito complicada. Se para nós, nas cidades, foi muito difícil, para eles foi terrível. Eles estavam sem ter o que comer mesmo, então a gente conseguiu criar uma ação e em dez voluntários carregamos 15 toneladas de alimentos. A gente precisou fazer em número reduzido para realmente conseguir fazer acontecer, porque não tínhamos como pagar o exame de Covid-19 para muitos voluntários”.
O retorno dos atendimentos odontológicos ocorreu apenas em novembro de 2021, após dois meses parados. Lorayne conta que o momento foi bem impactante, pois perceberam que os números mudaram e que os pacientes voltaram a ter cáries. “Foi ruim, mas ao mesmo tempo a gente percebeu que o nosso trabalho faz muita diferença. Foi comprovado que a nossa presença lá faz toda a diferença na vida deles, na saúde bucal e na saúde como um todo”.
A frase de Lorayne não é atoa. A atuação do Barco Sorriso na região de Guaraqueçaba vem impactando diversas áreas e tem como resultado o aumento da consciência sobre a importância da higiene bucal; redução do índice de problemas de saúde em geral; melhoria na alimentação; melhoria da autoconfiança e autoestima; aumento de presença e rendimento escolar (crianças e adolescentes); pessoas mais conscientes com a própria saúde, implementando e compartilhando hábitos de higiene e saúde, mais confiantes e sorridentes.
Gostou de conhecer o Barco Sorriso? Confira como outras iniciativas que passaram pelo Instituto Legado de Empreendedorismo Social impactam vidas.
Texto: Sabrina Fernandes
Fotos: Barco Sorriso