Lições de Muhammad Yunus para o pós-pandemia

Muhammad Yunus

Nobel da Paz, Muhammad Yunus participou de live com transmissão para o Brasil, falou sobre o que esperar para um “novo normal” e qual é o papel dos negócios sociais nesse contexto

Diretamente de Bangladesh, o economista Muhammad Yunus, Nobel da Paz (2006) e co-fundador da Yunus Negócios Sociais debateu planos de recuperação para um novo mundo pós-pandemia. A apresentação ocorreu durante o NO GOING BACK TALKS, evento online organizado pelo Yunus Brasil em maio. Confira as principais falas de Yunus durante o encontro.

Quem é Muhammad Yunus

Conhecido como o “banqueiro dos pobres”, Yunus nasceu em Bangladesh em 1940. Aos 25 anos recebeu uma bolsa para estudar economia na Universidade de Vanderbilt nos Estados Unidos, recebendo em 1969 o título de Ph.D. Na década de 1970 retornou a Bangladesh como presidente do Departamento de Economia da Universidade de Chittagong e começou a fazer experiências com o fornecimento de pequenos empréstimos para pessoas de baixa renda, sem as garantias e exigências tradicionais dos bancos comerciais. O projeto foi chamado de Grameen Bank e, mais tarde, em 1983, tornou-se um banco oficial para fornecer empréstimos aos pobres, principalmente mulheres na zona rural de Bangladesh.  Yunus logo virou inspiração em todo o mundo e em 2006 recebeu Prêmio Nobel da Paz.

Comunidade global

Yunus alerta para a necessidade de não perdermos de vista a colaboração e a busca por soluções em escala global. “Quando olhamos em volta, vemos o surgimento de uma espécie de tribalismo, em que cada país está tentando se proteger à sua maneira. Seja um caminho certo ou um caminho errado. Eles não estão preocupados com seus vizinhos, com os países mais distantes. Alguns até se tornaram mais agressivos, machucando outras pessoas e tirando vantagem de outras pessoas para priorizarem seu próprio povo, o que tem sido lamentável”. 

Segundo o economista, o momento agora, pelo contrário, é de de ajudar uns aos outros, compartilhar experiências para, juntos, superarmos a crise. Ele destacou as ações conjuntas de empresas, organizações, governos e universidades para avançar as soluções para a pandemia, sobretudo a vacina. Também criticou empresas que estão se aproveitando do cenário com único foco para a geração de lucros. “Temos visto grandes empresas tentando obter uma enorme quantidade de lucro com a vacina. De novo, esse é um caminho absolutamente errado. A vacina contra o Coronavírus não deve ser uma brecha para fazer dinheiro para grandes empresas, para obter lucro extraordinário. Devemos exigir que a vacina seja um bem público, um bem comum para o mundo inteiro”.

Primazia da vida

Yunus combateu o que chamou de “debate artificial” entre vida e meios de subsistência. “A primazia da vida deve ser reconhecida. Não deve ser barganhada, nem colocada na balança para confirmar se é mais importante que outra coisa”, afirmou. “Se você retomar os setores [da economia], o que acontece? Toda a ideia de espalhar o Coronavírus é condenável (…) É o lucro versus vida. Não é sobre garantir um meio de subsistência, é sobre a vida de uma pessoa”. Uma alterniva para atenuar os efeitos da crise e a desigualdade, segundo Yunus, seria implantar a renda básica universal.

Um novo caminho

Yunus defendeu que o “novo normal” não pode seguir na mesma direção do mundo pré-crise, pois esse era um cenário de perigo para a humanidade. Como exemplo, ele citou as queimadas na Amazônia e os números crescentes. Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em janeiro de 2019 houve 30% a mais de focos de queimadas na região em comparação ao ano de 2018. “Uma solução nos aguarda e é hora de agir. O aquecimento global é horrível e é apenas o salto para o fim. Além disso, é claro, há outras coisas que estão nos empurrando para a linha de chegada e uma delas é a extrema concentração de riqueza, que tenho chamado atenção, com muita força sempre que posso”.

O papel dos negócios de impacto

O modelo de negócio social desempenhará um importante papel na construção do mundo pós-pandemia, segundo Muhammad Yunus. “Vamos criar muitos negócios sociais para resolver os problemas da sociedade. Nós sabemos como fazer isso. É por isso que a Amazônia pode ser um exemplo, ao desenvolvermos um modelo de negócio social amazônico (…) todos nós queremos ter a certeza de que as pessoas que moram lá vivam felizes, tenham educação, saúde, uma vida melhor para seus filhos e, ao mesmo tempo, protejam o meio ambiente e certifiquem-se de que contribuem para a diminuição do aquecimento global”, disse o prêmio Nobel. 

“Vamos seguir uma jornada diferente e liderarmos um caminho para criarmos um mundo maravilhoso. O novo mundo que garantiremos, desde o primeiro dia, será direcionado para zero emissão líquida de carbono, será zero concentração de riqueza e zero desemprego. Esse é o tipo de mundo que vale a pena ”, completou Yunus. Para ele o setor de impacto social precisa trabalhar ao lado da juventude. “Os jovens já estão demonstrando que o mundo antigo não é o mundo em que eles gostariam de viver. Vamos convidá-los a se unir a este novo mundo, eles virão com todo o poder criativo para garantir que não voltaremos ao velho mundo e nos destruamos”.

Stephane Sena

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