Encontro sobre adoção e acolhimento familiar discute o drama vivido por crianças abandonadas

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Crédito das imagens: Instituto Legado e Pontes de Amor
Texto: Stephane Sena

Realizado entre os dias 2 e 3 de junho, o IV Encontro de Parentalidade e Adoção e 1º Simpósio de Acolhimento Familiar, promovido pela Ong Pontes de Amor em Uberlândia (Minas Gerais), discutiu a adoção no Brasil e os impasses para um acolhimento familiar efetivo. O evento reuniu mais de 500 congressistas, de 42 municípios, que vivenciaram momentos de reflexão, aprendizado e emoção.

Como apoiador da causa, o Instituto Legado esteve presente, representado pela gestora de projetos sociais Beatriz Groxco. A profissional participou da abertura com um relato sobre as possibilidades de conexão no setor de empreendedorismo social e a importância de sair da zona de conforto para criar ações que possam transformar realidades. “Foi uma experiência singular participar do evento e ouvir todas as partes envolvidas de um problema social que o Brasil tem a obrigação ética e moral de superar: o abandono das nossas crianças”.

De acordo com a gestora, a própria entrada de crianças em abrigos já mostra uma falha da sociedade. “Falhamos porque não fomos capazes de proteger essas crianças da violência doméstica, falhamos porque estamos criando mecanismos que marginalizam e tornam invisíveis seus direitos básicos, falhamos porque não conseguimos aplicar devidamente a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente e, por isso, ainda precisamos explicar o óbvio: toda criança, independente da sua cor, nacionalidade ou crença, possui o direito de se  desenvolver integralmente, com dignidade e respeito, crescendo no seio de uma família que nutre, cuida e potencializa”.

Além de Beatriz Groxco, o IV Encontro de Parentalidade e Adoção e 1º Simpósio de Acolhimento Familiar recebeu uma série de especialistas, entre eles juízes, promotores, secretários e os fundadores da Pontes de Amor, Sara Vargas e Rodrigo Rangel e Pereira. “Vocês são aqueles que entendem que investir na infância é investir no bem mais precioso que existe”, afirmou Sara aos congressistas.

A dor de vivenciar o abandono

Um dos momentos mais emocionantes do encontro foi o relato de jovens que passaram pelo processo de adoção, mas tiveram a experiência de serem devolvidos aos abrigos. Esse é o caso do estudante Marco Túlio, de 20 anos. Há cerca de três anos, faltando apenas um ano para chegar à maioridade, o jovem foi adotado por uma família juntamente com a irmã mais nova, na marcoépoca com 11 anos. “Eles cobravam muito de nós, esperavam crianças perfeitas e não se preocuparam em nos conhecer antes. Maltratavam verbalmente minha irmã, que começou a ficar muito triste naquela casa”.

Apesar dos desafios, Marco tentava se acostumar à nova vida, mas não conseguiu evitar aquilo que era seu maior pesadelo: ser devolvido para o abrigo. “A família estava passando por problemas e a mulher que nos adotou ficou muito depressiva. Então ela falou que ia nos devolver, oito meses depois de ter nos adotado. Eu chorei muito e ela disse que ia dar um jeito, mas não deu. Ligou para mim dizendo que eu precisava ir com minha irmã ao Fórum. Quando cheguei lá descobri que estávamos sendo devolvidos. Me senti uma mercadoria com defeito, um lixo”.

Marco acredita que parte do problema foi causado por um processo de adoção falho. “Foi muito rápido e mal feito. Parecia que tentavam nos empurrar por causa da minha idade avançada. A gente precisava de um contato melhor com a família antes da adoção porque só depois de tudo é que percebemos que ela não estava preparada”.

A história dos irmãos, felizmente, teve um desfecho melhor. De volta ao abrigo, Marco encontrou na analista de sistemas Eleni  Maria Nunes o amor que ainda não tinha recebido. “Ela era uma espécie de madrinha, que fazia doações e ajudava o abrigo. Quando soube da minha história, disse que, assim que eu fizesse 18 anos, poderia morar com ela. Agora minha vida é muito diferente”, diz o jovem com a empolgação de quem vive a melhor experiência de sua vida.

“Eu realmente me sinto amado e apoiado. É a primeira vez que me sinto parte de uma família. Nunca conheci meu pai biológico, mas agora sei o que é carinho e apoio paterno. É totalmente diferente”, completa Marco, cuja irmã foi adotada por outra família. “A gente mantém o contato. Conversamos sempre e, às vezes, ela vem me visitar”. A história dos irmãos é um exemplo de como é preciso repensar os processos de adoção e de como o acolhimento tem um papel essencial na vida de crianças e adolescentes.

Conheça o trabalho da Pontes de Amor e o Programa Família Acolhedora

A Ong Pontes de Amor surgiu em 2012 diante da preocupação com a garantia dos direitos de crianças e adolescentes institucionalizados e dos altos índices de devolução de crianças por famílias adotivas no Brasil e de crises familiares no pós-adoção por falta de apoio, acompanhamento psicológico e psicopedagógico. Em 2016, a instituição foi capacitada pelo Projeto Legado e foi uma das vencedoras do prêmio Cereja do Bolo, recebendo o investimento financeiro de R$ 10 mil para utilizar em expansão de impacto social.

Um dos principais projetos da Pontes de Amor é o Programa Família Acolhedora, que consiste em cadastrar e capacitar famílias da comunidade para receberem em suas casas, por um período determinado, crianças, adolescentes ou grupos de irmãos em situação de risco pessoal e social. Receber uma pessoa em acolhimento provisório não significa integrá-lo como filho. A família de apoio assume o papel de parceira no atendimento e na preparação para o retorno à família biológica ou substituta. Toda a família acolhedora recebe, por seis meses, período determinado de uma adoção provisória, uma ajuda de custo de um salário mínimo. A maioria das crianças e adolescentes que participam do programa retornam aos seus lares, após o período de acolhimento em lares substitutos.

Cada família acolhedora só pode acolher uma criança/adolescente por vez, exceto quando se tratar de grupo de irmãos. Casais, mulheres e homens solteiros podem ser participar. Em Curitiba, o programa é organizado pela Fundação de Ação Social. Para ter mais informações, acesse o site www.fas.curitiba.pr.gov.br/conteudo.aspx?idf=79.

 

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