Dança do Parixara: projeto em Roraima transmite ritual indígena do povo Macuxi para crianças e adolescentes

Parixara

Grupo Dança do Parixara Pataa’Maimu está no Projeto Legado 2022 e, desde 2007, perpetua saberes ancestrais que valorizam a identidade indígena e a sua relação com a natureza

Em meio a um cenário de devastação ambiental e ataques aos povos indígenas, a comunidade Boca da Mata, localizada na Terra Indígena São Marcos, em Pacaraima (RR), resiste mantendo viva sua cultura e suas tradições. Desde 2007, o povo Macuxi tem o Grupo Dança do Parixara Pataa’Maimu, projeto que valoriza rituais intimamente ligados à identidade indígena e que são transmitidos às novas gerações.  

Selecionado no Projeto Legado 2022, que nesta edição destinou vagas a iniciativas da região amazônica, o Grupo Dança do Parixara une instrumentos, cantos e movimentos para transmitir saberes e visão de mundo a crianças e adolescentes da comunidade. A coordenadora do projeto, Leoneide Pinho, destaca que o Parixara é um ritual de agradecimento à natureza. “O nosso deus, desde o princípio, traz essa dança para dentro de nós. Tudo o que nós fazemos está ligado a ela e a nossa identidade. Para nós tem um significado muito importante, não é só uma dança, por isso não deixamos a Parixara morrer, ela tem que viver e ser mostrada”.

O Parixara é ensinado a crianças da escola que funciona na comunidade e atende indígenas e não-indígenas, entre brasileiros e venezuelanos. “Para nós é muito gratificante repassar nossa cultura para a juventude, é uma forma de contar a nossa história”, explica Leoneide”.  No Grupo participam atualmente 18 crianças e jovens, entre 1 e 18 anos. Além das atividades comunitárias, eles se apresentam em eventos e outras ações.  

Parixara

O Parixara e o registro dos saberes tradicionais

Em um mundo cada vez mais conectado, o acesso à internet e a equipamentos eletrônicos ainda não é realidade para todos. Leoneide fala que essa é uma demanda da comunidade para que possa registrar suas práticas culturais, defender seu modo de vida e transmitir o conhecimento às novas gerações. “É importante que as crianças e os jovens dêem continuidade a essa causa. As nossas ‘bibliotecas vivas’ estão se acabando e se a gente não registra, não fala e não dança, tudo se perde. Ao transmitir para uma criança, quando ela crescer vai se sentir orgulhosa por defender sua cultura”. 

Vidas indígenas importam

Apesar de ter direitos garantidos pela Constituição de 1988, conquistados a partir de muita luta e articulação, os povos indígenas ainda se encontram sob ameaça. Um dos exemplos recentes é o número de ataques contra a Terra Indígena Yanomami. “Nossos direitos são garantidos pela Constituição, mas não vieram de mão beijada, foram vidas que se perderam e ainda enfrentamos ataques. O garimpo está acabando com nossa natureza e quando a gente grita que a mãe Terra está chorando, nós também estamos chorando. As vidas indígenas importam. Nós temos a nossa roça, plantamos e colhemos, tiramos nosso sustento e queremos preservar a natureza. Desde os nossos ancestrais, sabemos a hora certa de queimar, de plantar e colher. Sabemos que sem terra não há vida”. 


Leoneide Pinho também produz brincos, colares e outros produtos artesanais

A luta do povo Macuxi também adentra outros territórios. Filha de Leoneide, Yara Macuxi se formou em antropologia e atualmente é mestranda em Antropologia Social na Universidade Federal de Roraima (UFRR). “É muito gratificante ver minha filha chegar a esse patamar de defesa e isso só foi possível porque essa é uma luta que vem do passado. É gratificante ver médicos, advogados, dentistas e tantos outros profissionais indígenas”, celebra Leoneide.

Yara Macuxi

Yara é ativista e integrante da Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges (ABIA). Ela fala sobre o Projeto de Lei 191/2020, que tramita na Câmara dos Deputados e libera a atividade de mineração em terras indígenas. “Os direitos dos povos indígenas estão sendo violados. A Constituição diz que temos direito ao território e a gente vem lutando contra esse projeto e pelo direito à vida”. 

Texto: Stephane Sena

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