Setembro Amarelo: a força da empatia na prevenção do suicídio

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Texto: Stephane Sena

Segundo OMS, a cada 40 segundos, um suicídio é cometido em todo o mundo

A rotina agitada muitas vezes não nos permite parar para ouvir o próximo, oferecer um abraço e praticar uma escuta empática. Pode parecer algo simples, mas essas ações podem ser decisivas para ajudar a salvar uma vida. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 800 mil pessoas cometem suicídio por ano – uma a cada 40 segundos. São tragédias que, muitas vezes, poderiam ser evitadas com tratamento adequado e atenção. Para prevenir e reduzir estes números foi criada a campanha Setembro Amarelo, que promove a conscientização sobre a prevenção do suicídio.  Apesar do dia 10 de setembro ser, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, ações acontecem durante o mês inteiro.

Psicóloga com ênfase em saúde mental e ativista em direitos humanos, Emilia Cenapeschi lembra que, por muito tempo, o tema suicídio foi tabu na sociedade. “Hoje sabemos que a prevenção se baseia no conhecimento. Falar sobre o sofrimento com amigos, profissionais ou grupos é muito importante. A palavra também é cura”. De acordo com Emília, a depressão é uma das principais causas de suicídio. “Uma pessoa depressiva costuma apresentar sinais como apatia (não responder a estímulos das relações sociais), perda de motivação e sentimento de tristeza prolongado. É importante levar a sério essas mudanças de comportamento. Às vezes, o comportamento que julgamos com preconceitos pode ser um pedido de socorro”, explica a especialista.

Ninguém está sozinho(a)

Diagnosticada com depressão há um ano, a advogada e produtora cultural Lorayne Claudino em passado por uma longa jornada para enfrentar a doença, superar os desafios que preconceito impõe e compartilhar sua história com outras pessoas. “Começou a tomar conta da minha vida e precisei parar estudo e trabalho para cuidar de mim. A ideia de suicídio chegou a passar rapidamente pela minha cabeça, mas tive a sorte de nunca fazer nada extremo. Digo sorte porque a maior parte das pessoas depressivas que eu conheço já tentou tirar a própria vida”, relata Lorayne, que é fundadora da Barco Sorriso iniciativa voluntária que leva atendimento odontológico gratuito a comunidades litorâneas isoladas. Há alguns meses, ela encontrou uma nova forma de restaurar sorrisos. Criou o Depress Me Not, um site para compartilhar informações sobre depressão e incentivar outras pessoas a falarem sobre o problema.

“Depois que fui diagnosticada, comecei a conversar com muita gente e me espantou o número de pessoas que passam por isso, o que me estimulou a criar o projeto. Precisamos falar sobre a depressão, os sintomas, os tratamentos e como cada um pode ajudar”, afirma Lorayne. Ela conta que um dos grandes desafios é vencer os estigmas da sociedade. “Sempre que eu falo sobre isso fazem cara de espanto: ‘mas você é tão linda’, ‘mas você tem uma família ótima’. Precisamos entender que a depressão é uma doença física, que pode acontecer com qualquer pessoa, não escolhe classe social, estilo de vida, nem histórico familiar. Eu tinha preconceito também, mas comecei a estudar o assunto e comecei a admitir para mim, para minha família e para as pessoas que vivem ao meu redor”.

Para Lorayne, o diagnóstico também é essencial para que uma depressão leve não se aprofunde e vire caso de suicídio. “Muitos médicos ainda não estão preparados para detectar a doença”. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), embora existam tratamentos eficazes conhecidos para depressão, menos da metade das pessoas afetadas no mundo recebe tratamento. Frequentemente, pessoas com depressão não são diagnosticadas corretamente. Muitas vezes, a pessoa acaba sofrendo calada e, por não suportar a dor, decide tirar a própria vida.

O poder de um abraço

O cenário preocupante pode ser mudado com o engajamento da sociedade. Em Curitiba, jovens aprendizes da Elo Apoio Social e Ambiental se engajaram na campanha Setembro Amarelo e tiveram a ideia de criar um projeto de prevenção de suicídios. Começaram trabalhando o tema na sala de aula e terminaram levando acolhida, escuta e abraços para quem passava pela rua XV de Novembro, uma das mais movimentadas da cidade. “Foi muito revigorante passar por essa experiência. Uma senhora parou para contar que o filho dela estava sofrendo sem que ninguém soubesse e acabou cometendo suicídio. Ela me abraçou e agradeceu a ação. Disse que se o filho dela tivesse encontrado pessoas como nós, poderia estar vivo hoje”, conta o aprendiz Elden Antonio Schetg, de 19 anos.  “Foi emocionante saber que um simples gesto pode ajudar tanto”, completa.

Atuando na formação de jovens aprendizes, a Elo tem investido em ações de conscientização. Frases e palavras positivas pelos corredores, grupos de reflexão, atendimento psicológico, palestras, formação de instrutores e até yoga estão na lista de atividades criadas para trabalhar o emocional dos jovens e prevenir o suicídio. “Atendemos uma faixa etária que dimensiona muito as emoções e precisa saber que não está sozinha, precisa se sentir acolhida”, explica a estagiária de psicologia da Elo, Gabrielle Furtado. O trabalho está rendendo bons frutos. “Os aprendizes veem na Elo um espaço livre de julgamentos. Sabem que aqui terão apoio para superar momentos de sofrimento”, conta a psicóloga Naila Maria de Oliveira.

Como ajudar

Para oferecer apoio a pessoas com pensamentos suicidas, é fundamental praticar a empatia, ter a capacidade de se colocar no lugar do outro. “Jamais julgue previamente, procure acolher e ouvir o que o outro tem a dizer”, explica a psicóloga Emilia Cenapeschi. De acordo com ela, entre as principais causas de suicídio estão a depressão, o transtorno bipolar e o uso abusivo de drogas. Uma pessoa depressiva costuma apresentar sinais como apatia (não responder a estímulos das relações sociais), perda de motivação e sentimento de tristeza prolongado. Já no transtorno bipolar, o maior sintoma é a transição constante do estado de humor, indo da euforia à tristeza. “É importante levar a sério essas mudanças de comportamento. Às vezes, o que julgamos com preconceitos pode ser um pedido de socorro”, diz a especialista, que deixa outras dicas:

Em casos de verbalização de pensamentos e ideação suicida

  • Acolha e preste os primeiros cuidados
  • Ouça com atenção e empatia
  • Pergunte como pode ajudar
  • Para orientação ou encaminhamento, entre em contato com a rede de saúde e socioassistencial da região: Unidade Básica de Saúde (UBS), Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS)

Em casos de tentativa de suicídio

  • Acolha e preste os primeiros cuidados
  • Encaminhamento à emergência.

Como pedir ajuda

É muito importante encontrar alguém para conversar e não guardar o sofrimento para si. Existe ajuda disponível!

Centro de Valorização da Vida – 188 (ligação gratuita) ou  www.cvv.org.br
CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde).
UPA 24H, SAMU 192, Pronto Socorro e Hospitais

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