Texto: Stephane Sena
Fotos: SinerGize
Em uma noite repleta de emoções, conexões e inspiração, o Instituto Legado de Empreendedorismo Social realizou a entrega do Prêmio Legado 2023, celebrando o impacto positivo de organizações e negócios que buscam deixar um legado transformador na sociedade. Desde 2013, o Instituto Legado atua como catalisador para projetos inovadores e iniciativas de impacto, tendo beneficiado mais de 300 iniciativas no país.
A cerimônia teve início com as palavras de Ágatha Rocha, destacando a importância do empreendedorismo social como um movimento que gera valor social, e apresentação musical da cantora Janine Mathias. A equipe da Associação Nariz Solidário foi responsável pelo acolhimento dos convidados.
Ágatha Rocha, que atuou como coordenadora de projetos do Instituto Legado até outubro, destacou a trajetória do Projeto Legado, programa de aceleração que existe desde 2013. “Nesses 11 anos de Projeto Legado, nós oferecemos capacitações imersivas, conexões, desafios de impacto e o convite à criação de um projeto de expansão”, relembrou. “Neste ano, nós tivemos mais de 70 iniciativas inscritas, de 18 estados, 19 iniciativas selecionadas e 11 finalistas que estão concorrendo ao Prêmio Legado”, completou Ágatha.
As finalistas foram: Associação Obra Nossa, Atitude Inclusão, Educadora Menstrual, Fazer o Bem a Quem Não Tem, Green Evolution, Ingá Orgânicos, Instituto de Políticas Públicas Migratórias, Instituto Nacional Leva a Ciência, Interpress, Sinergize, e Tico e Tica Sensory.
Apresentações
O público que acompanhou o evento presencialmente e on-line teve a oportunidade de ouvir o pitch de todos os finalistas e conhecer a trajetória de duas iniciativas que passaram pelo Projeto Legado em anos anteriores. Camila Casagrande, do Instituto Incanto, compartilhou sua inspiradora trajetória e experiência ao ter passado pelo programa de aceleração em 2019.
O Instituto Incanto tem como missão transformar a vida de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social em Curitiba, utilizando arte, cultura, esporte e tecnologia como ferramentas de desenvolvimento. Camila destacou o impacto do Projeto Legado em sua jornada e a importância do trabalho em rede.
“Eu acho que hoje eu tô aqui porque eu sou movida pelo coração, pela alma do empreendedorismo social. Aprendi com o James o que é empreendedorismo social. Eu não me reconhecia como empreendedora, eu não falava ‘eu sou empreendedora’, não me colocava nesse lugar. Conhecer esses outros ‘malucos’ que também acreditam na transformação social empodera, faz com que a gente consiga se sentir seguro, confortável, acolhido e entendendo todas essas oportunidades que a gente gera a partir daqui”, disse Camila.
Na sequência, Ariane Santos, fundadora da Badu Design, premiada em 2016, trouxe seu relato. Como negócio de impacto socioambiental, a Badu Design trabalha na ressignificação de resíduos industriais e forma mulheres em design circular. Ariane compartilhou sua jornada desde a fundação da Badu até as conquistas recentes, enfatizando a importância das conexões e do apoio do Instituto Legado.
“Eu passei por uma lapidação de várias organizações. O Legado foi uma delas lá em 2016, e começou também com a minha história. Eu venho de uma família onde o maior valor era a educação, o amor e o cuidado. Isso fez toda a diferença, porque quando você está na vulnerabilidade e tem essa base em casa, tudo se torna possível”, contou Ariane, que ressaltou que a passagem pelo Projeto Legado a incentivou a fazer conexões que foram importantes para o início da Badu Design.
“Depois a gente ganhou o prêmio da Natura, da Red Bull Amaphiko, a gente ganhou no ano passado o prêmio da ONU de Cidadão do Clima. A gente já está há 10 anos nessa trajetória, então teve altos e baixos várias vezes, mas a gente renasceu com uma fénix e falou: ‘vamos lá que o que a gente está fazendo é muito importante’. Hoje, aquilo que começou no meu quarto a gente já formou 1.500 mulheres. A gente está em Curitiba, São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro e trabalhando com grandes empresas”, completou a empreendedora social.
Prêmios
Gláucia Marins, cofundadora do Instituto Legado, iniciou o anúncio das iniciativas premiadas da noite expressando seu reconhecimento pelo esforço e dedicação de todos os participantes. Além disso, anunciou a grande notícia de que, devido ao sucesso da banca final, os prêmios foram ampliados.
“O Glaico Gundim e o Edu Moraes, que estavam na banca, se uniram e formaram um grupo tentando conseguir mais prêmios. Nós tínhamos um prêmio de 10 mil reais, que era o Instituto Legado que dava. Hoje, posso dizer para vocês que nós vamos ter 3 prêmios de 10 mil reais e 2 prêmios de 6 mil reais, totalizando 42 mil reais em premiações”.
Quinto lugar: Ingá Orgânicos
Localizada em Campo Largo, a Ingá Orgânicos é um negócio social que oferece um programa de assinatura de alimentos orgânicos, levando comida fresca para a casa dos consumidores.
“A gente agradece muito. Sim, por tudo. O Legado foi uma segunda família. O nosso grupo foi extremamente acolhedor, a gente se sentiu em casa mesmo, então a gente fica muito feliz. Ter participado disso tudo já foi uma vida nova”, declarou Camila Cantarelli, cofundadora da Ingá.
Quarto lugar: Tico e Tica Sensory
A Tico&Tica Sensory, fundada por Julia Nycolack, é um negócio social dedicado a criar roupas infantis inclusivas, especialmente projetadas para atender às necessidades de crianças com disfunções sensoriais. A diferenciação da marca reside em seu design exclusivo, uso de tecnologia e inovação em processos, modelagem adaptativa, costura de baixo estímulo sensorial, matéria-prima sustentável, além de uma abordagem de mão de obra justa, inclusiva e qualificada.
“Eu acho que esse prêmio tem o nome errado. O nome dele deveria ser cereja do bolo sempre, porque tudo o que a gente aprende não tem preço, é de valor inestimável. A trajetória, a equipe, as amizades que a gente fez… provavelmente todo mundo vai falar, mas a gente formou uma família. Eu vim de uma trajetória muito difícil, de um setor de startup e foi aqui que eu conheci o que é o termo de impacto social e o que eu faço não é errado”, disse Julia.
Terceiro lugar: Educadora Menstrual
A Educadora Menstrual é um negócio social que tem o propósito tornar natural o diálogo sobre o ciclo menstrual e a menstruação, contribuindo para a dignidade e a emancipação das pessoas que menstruam. A iniciativa realiza oficinas, palestras, rodas de conversa e capacitações sobre o tema. Parte do lucro sobre a venda dessas atividades é direcionado para o Projeto EmanCicla, que faz esse conhecimento chegar de forma gratuita para estudantes da rede pública de ensino e comunidades em situação de risco.
“Foi incrível a oportunidade de estar em um lugar muito acolhedor. Eu conheci pessoas incríveis nesse ambiente do Legado. Muito grata, Gláucia, James, Dani e Ágatha. Eu não tenho nem o que falar em relação ao acolhimento e o carinho que eu recebi de vocês. E a todas e todos os facilitadoras e facilitadores, muito obrigada!”, disse Silvana Guerreiro, fundadora da Educadora Menstrual.
Segundo Lugar – Attitude Inclusão
A Attitude Inclusão é uma empresa de educação comprometida em promover a inclusão de pessoas com deficiência e neurodiversas no mercado de trabalho de maneira equitativa, por meio de metodologia exclusiva.
“Essa noite, eu quero deixar um recado. Quando a gente fala de inclusão, às vezes tudo é tão pesado, tudo é tão difícil. As pessoas focam tanto no que nos falta, mas a gente quer dizer que existe beleza nesse movimento de incluir, que todos somos capazes e que, uando a gente fala de inclusão, a gente tem que pensar mais nas nossas potencialidades do que nos desafios e no que falta. Há beleza na diferença”, disse Cecília da Attitude Inclusão.
Primeiro Lugar – Instituto Nacional Leva Ciência
O Instituto Nacional Leva Ciência trabalha pela democratização do acesso à ciência com crianças, jovens e profissionais da educação na Amazônia, com base nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU. Sua história começou quando Aira Beatriz, então estudante do Ensino Médio, e a professora Danielle Brito, orientadora de projetos, descobriram o potencial transformador da ciência. Após fazerem trabalho voluntário e sofrerem preconceitos por serem da Região Norte, elas fundaram a instituição para enfrentarem desafios educacionais na Amazônia.
“Eu queria agradecer ao Legado e a toda a turma do Projeto Legado, porque me mostraram um mundo diferente”, disse Aira Beatriz. “Gente, o Amapá existe. Falar da Amazônia não é só falar do bioma, é falar das pessoas que estão ali diariamente, está certo? Muito obrigada e viva a Ciência!”, finalizou ela.
Encerramento com James Marins
O evento chegou ao fim com as palavras do presidente do Instituto Legado, James Marins. Com uma mistura de reflexão e inspiração, ele destacou a importância do empreendedorismo social e o papel desempenhado pelos projetos apresentados. “Os empreendedores que vocês conheceram hoje aqui são empreendedores sociais porque compartilham três características em comum que nós chamamos de DNA do Empreendedor Social. Todos eles são dotados de um elevado grau de propósito, e o propósito é ético. Quando nós dizemos que o empreendedor é social, nós dizemos que o empreendedor é ético. Nós dizemos que ele está preocupado com o que vai muito além do eu. Pensa em tudo: nas pessoas, no planeta, em toda a biosfera”, afirmou.
James também enfatizou a característica inova de empreendedores sociais. “Vocês viram hoje aqui a quantidade de inovação, de impacto social e ambiental que esses empreendedores trouxeram O empreendedor social é tecnologicamente atualizado porque ele quer usar as ferramentas que estão disponíveis na sociedade para expandir o seu impacto, para gerar efeito positivo na sociedade. E o empreendedor social é aquilo que nós chamamos de sonhador ousado, obstinado e prático. O empreendedor social é um ‘indesistível’ como todos que estiveram aqui hoje o são e é nisso que nós acreditamos: nessa possibilidade que essas pessoas trazem para o mundo, na inspiração que trouxeram para nós”.