Você já se perguntou qual é o seu papel na resolução dos problemas socioambientais? Se este questionamento já é difícil de responder no plano individual, imagine no plano empresarial. Apesar da farta discussão sobre o tema, até o momento não se atingiu um consenso, havendo opiniões de diversos sentidos. Porém, pode-se observar que a sociedade está cada vez mais alerta em relação às práticas realizadas pelas instituições. Alguns consumidores, por exemplo, avaliam a responsabilidade e a imagem empresarial na escolha dos produtos a serem adquiridos.
Além disso, organizações com viés tradicional (cujo propósito restringe-se ao lucro em detrimento do ecossistema) já começam a enfrentar dificuldades na retenção e no alinhamento de interesse de seus funcionários. Especialistas apontam que mais de 80% das pessoas trabalham sem engajamento e entusiasmo. No entanto, uma pergunta é essencial: seria coerente esperar paixão e alinhamento de propósito dos colaboradores quando o único objetivo da instituição é gerar lucro para seus fundadores?
Independentemente de seu formato jurídico e de seu propósito, todas as entidades geram de alguma maneira impacto social, além do impacto econômico (isto é, do lucro financeiro), que pode ser positivo ou negativo. No entanto, tradicionalmente esse impacto não era avaliado ou considerado relevante. Porém, com os primeiros sinais de limitação dos recursos naturais e a ocorrência de desastres ambientais – como o de Mariana, no Espírito Santo – essa mentalidade tende a mudar. A BOVESPA, por exemplo, criou o índice de sustentabilidade empresarial (ISE) e há no mercado várias consultorias especializadas em mensurar o impacto socioambiental das instituições. Jed Emerson[fusion_builder_container hundred_percent=”yes” overflow=”visible”][fusion_builder_row][fusion_builder_column type=”1_1″ background_position=”left top” background_color=”” border_size=”” border_color=”” border_style=”solid” spacing=”yes” background_image=”” background_repeat=”no-repeat” padding=”” margin_top=”0px” margin_bottom=”0px” class=”” id=”” animation_type=”” animation_speed=”0.3″ animation_direction=”left” hide_on_mobile=”no” center_content=”no” min_height=”none”][1] defende que as formas de criação de valor de uma instituição precisam ser integradas e avaliadas para criar uma espécie de BLENDED ROI[2], que substituiria o tradicional ROI (taxa de retorno sobre o investimento).
Além disso, empresários, filósofos e ativistas defendem que estamos vivendo em um momento de transição e que os paradigmas de administração tradicionais não seriam mais adequados a longo prazo. Dentre estas correntes, pode-se citar (i) o capitalismo consciente, desenvolvido por John Mackey, CEO da Whole Foods e de seu parceiro Raj Sisodia, professor de negócios, (ii) o conceito de criação de valor compartilhado, sobre o qual escreveram os pesquisadores Michael Porter e Mark Kramer[3], que no Brasil vem sendo aplicado na Coca Cola com êxito, (iii) o movimento promovido pelo Sistema B, que cresce mundialmente de forma exponencial, dentre tantos outros.
Embora esse seja um movimento ainda em construção, cujo resultado não se possa prever, o papel organizacional representa um reflexo da cultura social que vem mudado ao longo do tempo[4]. Diversos filósofos tentam explicar os paradigmas culturais e econômicos que estão despontando num futuro próximo, como o belga Frederic Laloux, o brasileiro Jair Moggi, entre outros. Em meio a essas teorias, alguns elementos parecem se repetir, como:
Promoção de uma estrutura de governança que seja menos hierarquizada e que estimule a proatividade e a tomada de decisão por parte dos colaboradores. A estrutura de governança tradicional e estratificada sobrecarrega os altos cargos executivos e aliena os demais integrantes da cadeia, tratando-os de forma infantilizada e desprovida de responsabilidade. Os ganhos desta mudança são a possibilidade de uma resposta mais rápida ao mercado; a resolução de problemas mais complexos utilizando a inteligência coletiva e não apenas a inteligência de poucos funcionários que compõe a cúpula da administração; e a promoção, engajamento e retenção de talentos.
Foco à saúde das relações institucionais, assim ao desenvolvimento integral dos indivíduos e das equipes. Nesse processo seria necessário criar um espaço para reflexão, para o aparecimento das emoções e das vulnerabilidades; ou seja: para que os colaboradores se manifestem de forma integral, pois somente nesses ambientes seria possível aproveitar a criatividade, o real engajamento e as paixões.
Missão de servir ao mundo. Isto é, de resolver um problema concreto que afete a comunidade. Nesse sentido, ao invés de criar metas, as empresas da nova geração teriam um propósito que evoluiria de acordo com a necessidade social. A teoria afirma que os negócios deveriam servir à comunidade, não o contrário. Nesse cenário, seria revista a maneira como as empresas contratam seus fornecedores, se relaciona com os clientes, reinveste-se o seu lucro e até mesmo cria seus produtos.
Nota-se, portanto, que a grande mudança que parece estar em curso, segundo esses especialistas, é de cultura empresarial. Nessa nova cultura, os negócios não precisariam doar parte de seu lucro, pois estariam promovendo o bem ao longo de sua cadeia produtiva. Nesse contexto, não haveria dilema entre lucro e responsabilidade social. Se de fato esses serão os novos paradigmas empresariais, só o tempo vai mostrar, mas cabe a cada um de nós escolher o futuro que quer construir. Essa construção ocorre tanto no plano individual (quando escolhemos os produtos que compramos e as empresas nas quais queremos investir nossos talentos), como no plano empresarial, em se tratando de executivos e de investidores.
Existe, sim, a possibilidade de um novo modelo no qual alinha-se o lucro e a responsabilidade social; no qual há a necessidade de dialogar com novos atores e de criar parcerias verdadeiras. Esse modelo está esperando por nós. Precisamos dar o primeiro passo!
[1] EMERSON J, The Blended Value Proposition: Integrating Social and Financial Returns. California Management Review. 2003.
[2] Um quadro conceitual emergente em que organizações sem fins lucrativos, empresas e investimentos são avaliados com base na sua capacidade de gerar uma combinação de valor financeiro, social e ambiental.
[3] PORTER M; KRAMER M. Creating Share Value. Harvard Business Review. 2011.
[4] “Reinventing Organizations: A Guide to Creating Organizations Inspired by the Next Stage of Human Consciousness”, 2014.
Autores:
Rachel de Oliveira Sampaio de Andrade, advogada especializada em M&A e mercado de capitais, sócia do escritório jurídico Marins Bertoldi Advogados Associados, cujos sócios fundadores são os idealizadores do Instituto Legado de Empreendedorismo Social. Rachel é mentora da Libria Aceleradora de Impacto, tem curso de Extensão em Business Administration pela US Berkeley Extention e é graduada em Direito pela PUC RJ em curso coach ontológico pela Newfield Network.
Steffen é executive coach (Integral Coaching Canada®) e consultor em desenvolvimento organizacional, sustentabilidade, inovação e liderança (MBA Cumbria University, UK). Ministra palestras e aulas sobre complexidade e inovações para educação executiva. Especialista em abordagens de mudanças integrais, é um facilitador de processos e grupos ajudando profissionais e empresas a criar novas habilidades, processos e sistemas para lidar com incertezas e a crescente complexidade. Steffen é diretor-fundador de Virtus Desenvolvimento Integral.
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