Olubayo: negócio social produz bonecas negras para fortalecer identidades e promover uma educação antirracista

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Texto: Stephane Sena
Fotos: Divulgação Olubayo/Débora Reis/Camila Loren

Essa é uma história de como as experiências que vivemos individual ou coletivamente podem ser ressignificadas e conectar pessoas em torno de uma causa. Há cerca de três anos, a empreendedora social Mariane Diaz usou a linha para costurar suas memórias e chamar atenção para a importância da representatividade e da igualdade racial no Brasil desde a infância. Nascia assim o Olubayo, negócio social que produz bonecas negras (bonecos também), faz contação de histórias e oferece consultoria pedagógica na área das relações étnico-raciais para educadores.

Do Rio de Janeiro, Mariane é pedagoga e mestra em Educação. Quando começou a dar aulas no Ensino Infantil percebeu que, mesmo muito novos, os alunos já eram atravessados pelo racismo. Também observou que os brinquedos aos quais eles tinham acesso não eram representativos, sobretudo os bonecos – todos brancos. “Meu reconhecimento de mulher negra veio dessas crianças. Foi quando decidi confeccionar um casal de bonecos de pano negros e levar para minha turma. Vi o quanto isso foi legal, as crianças gostaram bastante”, conta. 

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A ideia da professora deu tão certo que logo algumas amigas a procuraram para encomendar bonecas. Em pouco tempo, a iniciativa virou um negócio. “Comecei a vender, participei de feiras, aprofundei minhas pesquisas e fui melhorando minha produção até chegar a um formato que me agrada mais, em relação à estética”. Hoje, quem procura a Olubayo pode fazer pedidos personalizados: definir se quer uma boneca negra ou um boneco negro, selecionar a cor da roupa que prefere e como será o cabelo do brinquedo, entre estilo blackpower, trança nagô ou crespo baixo.

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Humanização

As vendas, feitas online, já atenderam famílias de São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais, entre outros estados. Algo que chama atenção de Mariane é que entre os clientes também há pessoas não-negras. “É muito simbólico que crianças, tanto negras quanto não-negras, tenham esse acesso em um contexto de sociedade onde há racismo estrutural. Quando elas pegam a boneca negra, aprendem a acolher e demonstrar afeto por corpos negros. Isso é humanizar, não é só um brinquedo. É uma importância muito profunda”, defende Mariane. 

A primeira boneca

Foi depois que a Olubayo nasceu que Mariane resgatou uma memória familiar que ficou guardada por anos, mas é significativa para sua trajetória e para a transformação social que está gerando. “Minha avó era uma mulher negra que colecionava brancas e, no final da sua vida, teve suas duas primeiras bonecas negras, uma que eu fiz e outra que eu comprei. Eu não me lembrava disso quando abri a Olubayo, mas é representativo. Vejo como muito do que eu faço dialoga com a minha história pessoal”. 

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Modelo de negócios da Olubayo

A Olubayo trabalha com a ideia de custos abertos. Isso significa que os clientes sabem de antemão o quanto custa o processo de produção dos brinquedos: matéria-prima, embalagem, divulgação e mão de obra. Além disso, o empreendimento social pratica quatro faixas de preço final e os clientes escolhem qual delas pode pagar: valor viável para a manutenção da Olubayo; valor sustentável para ações de impacto; valor abundante para ações de impacto e valor próspero para os projetos. “Boa parte das pessoas escolhem a opção sustentável para ações de impacto”, afirma a pedagoga.  As vendas que incluem verba para ações de impacto ajudam a viabilizar contações de histórias negras em escolas públicas e espaços culturais do Rio de Janeiro. “São regiões periféricas abandonadas pelo poder público”, comenta.

Outra fonte de renda do projeto é a realização de atividades como rodas de conversa sobre educação antirracista e oficina de confecção de bonecas negras. Mariane estima que mais de mil famílias foram impactadas entre 2018 e 2020.

 

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Aceleração no Projeto Legado

O Olubayo é uma das iniciativas selecionadas no Projeto Legado 2021. “Eu vejo quando é diferente quando é um programa especializado em impacto. Traz mais possibilidades para caminhar de acordo com os meus valores e com as coisas que eu acredito. O Legado tem uma formação mais robusta. Acredito que vai contribuir para a melhoria do meu modelo de negócios de forma que eu possa ampliar as vendas e atuar em mais espaços. Quero fazer um trabalho contínuo com acompanhamento e observação das mudanças geradas. Saber se as crianças estão lidando melhor com seus cabelos, se estão sonhando e tendo outras perspectivas. Também quero formar uma rede de pessoas contadoras de histórias e costureiras para gerar cada vez mais impacto”, finaliza a pedagoga. 

Para saber mais, acesse www.facebook.com/olubayoeducacao

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