Criação das iniciativas tiveram por objetivo aumentar qualidade de vida dos filhos e de outras crianças com alguma deficiência
Dia 8 de maio é celebrado o Dia das Mães, mesmo nós sabendo que todos os dias são delas. Os 365 dias do ano são de celebração por aquelas que dão a vida pelos filhos se for preciso. Existem vários tipos de mães, as que dão à luz, as que adotam ou as mães de consideração. O fato é que independente de qual que seja a sua, ela é uma guerreira.
Existem as mães que abandonam seus empregos para se doarem por inteiro à vida materna, mas também há as que veem na maternidade uma alternativa. Uma chance para a vida pessoal ou para melhorar a vida de seu próprio filho, como é o caso das mães Carla Dalponte e Shirley Ordônio, mães de pessoas com deficiência física e que por causa dos filhos se tornaram mães empreendedoras.
Projeto LIA busca trazer acessibilidade para todas as crianças
O Movimento Nacional Projeto LIA – Lazer, Inclusão e Acessibilidade busca adaptar todos os parques públicos para que todas as crianças com alguma deficiência também possam brincar. A ideia surgiu em 2012, quando Shirley, mãe de três crianças, uma delas com deficiência motora causada por uma paralisia cerebral, levou seus filhos para um passeio no parque. Naquele dia, apenas duas foram brincar, menos a Letícia, que foi impedida devido às barreiras arquitetônicas de acessibilidade..
Essa história pode ser vista como um dia ruim, mas a mãe resolveu tirar as almofadas da cadeira de rodas e adaptou o balanço, fazendo com que a alegria de Letícia tomasse conta do parque. Foi a primeira vez que a mãe ouviu a voz de sua filha em uma gargalhada bastante alta. Depois desse dia, a vida da empreendedora nunca mais foi a mesma. Após ver a filha feliz, ela se uniu com outras mães que possuem o mesmo propósito e em 10 anos já mudaram a realidade de mais de 80 cidades no Brasil.
A iniciativa começou em 2012, mas, para Shirley, a maternidade a transformou em empreendedora bem antes, em 2008. “Ao me tornar mãe, eu já comecei a pensar no que mais eu poderia fazer. Primeiro para o Leonardo, queria propiciar a ele tudo o que não tive e mesmo com emprego convencional, já empreendia com vendas de perfumes e lingeries. aplicava os ganhos em um curso técnico de webdesigner e em uma segunda faculdade de Marketing”, relata.
Além de Leonardo Zeni, Shirley tem Camila e Letícia Zeni, duas meninas gêmeas que nasceram em 2010. Uma delas possui o diagnóstico de paralisia cerebral, autismo e epilepsia. “Com receio de deixá-las desassistidas, parti para uma terceira faculdade, em Secretariado Executivo, apenas para garantir o emprego convencional que eu tinha naquele momento. O Projeto LIA que havia criado estava crescendo e meu envolvimento com a pessoa com deficiência, devido às questões com minha filha, ainda mais. Saí do emprego convencional, empreendi, caí, me levantei e aprendi”, acrescenta.
Hoje, além de mãe de três, a empreendedora realiza uma pós-graduação em Gestão em Saúde, Planejamento e Política, dá palestras sobre Advocacy, auxiliando pessoas e instituições na área da saúde e inclusão da pessoa com deficiência, doenças e síndromes raras na garantia de seus direitos.
Mundo Adaptado conecta famílias e especialistas
A história de Carla Delponte se parece bastante com a de Shirley: duas mães que iniciaram seus projetos por conta da maternidade. No caso de Carla, a ideia da Mundo Adaptado surgiu em 2013, depois das dificuldades após o nascimento do primeiro filho. Leonardo nasceu prematuro extremo (5 meses e 15 dias) e teve uma parada cardiorrespiratória, que evoluiu para uma hemorragia intracraniana com lesões cerebrais irreversíveis, chamada de Paralisia Cerebral. Foram 6 meses na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal.
“Quando recebeu alta e fomos para casa, os obstáculos continuaram. Eu não encontrava locais com informações seguras na internet, apenas sites de fora do país. O acolhimento das mães era através de amigas da UTI, da Fisioterapia ou durante a jornada de busca a médicos e terapeutas. Foi então que, em 2014, comecei a colocar em prática o sonho. Passava horas e horas na internet buscando os melhores produtos e serviços para o meu filho e não percebia que estava me especializando no assunto”, relembra Carla.
Apenas em 2016 que a Mundo Adaptado realmente iniciou, e foi por meio de uma plataforma de conteúdo, onde pais, especialistas e famílias se conectam por meio de conteúdos que retratam o dia a dia da deficiência em casa, na rua, na escola e na vida social. Segundo a empreendedora, é através do espaço que famílias são ouvidas e mostram para a população que é possível ter uma vida “normal” em meio a adversidades.
“Já a partir do primeiro ano de existência, esses relatos e conteúdo de especialistas foram gerando impacto social e auxiliando famílias que passavam pela mesma situação. Todo o conteúdo passa por uma curadoria da nossa equipe. Depois de identificar a necessidade de produtos para crianças com deficiência, iniciamos o marketplace voltado para este nicho”, explica Carla.
Hoje, a plataforma possui mais de 150 mil seguidores nas redes sociais e cerca de 32 mil pessoas são cadastradas em sua base de dados. Além da conexão entre famílias e especialistas e a venda de produtos que facilitam o dia a dia de pais que possuem crianças com alguma deficiência, a iniciativa disponibiliza cursos onlines desenvolvidos por especialistas.
Nascimento do filho mostrou propósito empreendedor
Carla é graduada em Administração e pós-graduada em Marketing e sempre teve vontade de ter seu próprio negócio, mas nunca sentiu propósito em nenhum. “Depois que meu filho nasceu em meio a uma ‘montanha russa de emoções’, demorei a entender que ali poderia estar a resposta que eu tanto procurava. Precisei passar pelas dificuldades, negação de ter uma situação difícil demais para resolver, entender que eu poderia colocar a mão na massa e criar soluções para pais de crianças com deficiência que viviam e vivem situações semelhantes à minha e da minha família”, conta.
A inquietação de não achar informações sobre o tema em nenhum local, junto com a angústia de precisar de um caminho para encontrar médicos especialistas e produtos, foi o empurrão de que Carla precisava para começar com a iniciativa. “Senti necessidade de abandonar meu emprego com carteira assinada e estabilidade, para ir de encontro ao que acreditava e continuo acreditando: que podemos facilitar a vida de famílias com pessoas com deficiência”, explica.
Iniciativas passaram pelo Instituto Legado
Além das histórias bastante parecidas, as idealizadoras dos dois projetos participaram de iniciativas do Legado. Carla participou da aceleração em 2021, o que, segundo ela, os ajudou a atualizar ainda mais o impacto social causado. “Acredito que unidos vamos mais longe, impactamos mais e mudamos realidades”.
Shirley, do Projeto LIA, participou em 2019. “Enxerguei quais de fato eram minhas habilidades e o que realmente era o meu propósito. Descobri a partir de tantas capacitações dentro do Instituto Legado que minha habilidade com Advocacy era o que me mantinha firme. Percebi a força que tinha meu storytelling e que meu trabalho estava diretamente ligado com isso”, conta.
Gostou de conhecer um pouco mais sobre as iniciativas de duas mães empreendedoras? Confira outros projetos que já foram acelerados pelo Legado.