Os investidores sociais são abordados exaustivamente para o financiamento de projetos e não é possível apoiarem a todas as iniciativas isoladas. Da mesma maneira que os recursos naturais, o investimento social privado também é finito – apesar de ainda subutilizado, sem dúvida – e a mentalidade ‘extrativista’ para a captação de recursos é nociva para o ciclo virtuoso da transformação social.
Filantropos, inovadores sociais, fundações, associações sem fins lucrativos e ativistas enfrentam a complexa tarefa que é atrair recursos privados para viabilizar projetos cuja finalidade é pública. A doação de dinheiro e voluntariado por caridade ou filantropia para promover um bem social antecede a Responsabilidade Social Corporativa. No entanto, existem diversos elementos fundamentais intrínsecos ao conceito de investimento social privado, que diferenciam essa prática das ações assistencialistas. Dentre elas, a preocupação com o planejamento, o monitoramento, a estratégia voltada para resultados sustentáveis no longo prazo e o envolvimento da comunidade no desenvolvimento da ação. Afinal, todo o investimento tem como objetivo o retorno.
Conforme o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, o GIFE, 85% dos investidores sociais brasileiros atuam em educação. Todavia, os avanços nesta área ainda são pouco percebidos e novas abordagens são necessárias para resolver problemas antigos. Uma metodologia recentemente codificada em 2011 pelos executivos da FGS Consulting, John Kania e Mark Kramer, também associado a Harvard Kennedy School, é o Impacto Coletivo, que consiste no compromisso de um grupo de atores importantes de diferentes setores ao redor de uma agenda comum para resolver um problema social específico em larga escala. Esta abordagem inovadora visa potencializar a esfera do impacto social, indo além do impacto isolado para um impacto coletivo altamente coordenado na cooperação.
Um caso de impacto coletivo de transformação em educação é o StrivePartnership, na cidade de Cincinnati, nos Estados Unidos. A StrivePartnership não criou um novo programa ou levantou mais dinheiro. Em vez disso, eles concordaram em um conjunto comum de metas e indicadores de sucesso, incluindo o monitoramento do número de vagas de acesso ao jardim de infância, indicadores para habilidade em leitura e em matemática para alunos da quarta série, índices de aprovação na graduação e taxas de conclusão de cursos universitários. Foram alinhados os investimentos financeiros e a parceria melhorou 34 dos 53 indicadores nos primeiros quatro anos. Isso é impacto coletivo.
O empreendedor social que demonstrar empatia, entusiasmo e notável preparação estará mais próximo de encontrar sinergias com os investidores. O sucesso da captação de recursos é diretamente proporcional à qualidade do modelo da inovação social e da proposta de valor compartilhado para uma solução de impacto realmente boa. A extração desenfreada de recursos naturais é nociva para o meio ambiente. Traçando um paralelo, da mesma forma, a captação de recursos para projetos de impacto isolado e desestruturados pouco contribuem para o desenvolvimento da sociedade – e podem, inclusive, gerar o efeito inverso desestimulando novos investimentos.
*Alessandra Schmidt é administradora de empresas pela UFPR, com especialização em Empreendedorismo e Inovação Social por INSEAD, na França; Professora do curso de pós-graduação da FAE e do Instituto Legado de Empreendedorismo Social; e Captadora de Recursos para o Instituto Atuação. O Instituto Legado é parceiro do Instituto GRPCOM no blog Giro Sustentável.