Quatro empreendedores sociais listaram as principais tendências do setor para o próximo ano
Podemos considerar que o ano de 2022 foi o primeiro “normal” desde que a pandemia de Covid-19 assolou o mundo. Para muitos, foi também desafiador e exigiu inovação em diversos setores. Mas o que será que podemos esperar do ecossistema de impacto para 2023? Perguntamos a alguns profissionais do setor, que responderam suas expectativas para o próximo ano. Entre os temas mais citados, estão pautas de ESG e investimentos.
Para James Marins, presidente do Instituto Legado, o ano de 2023 será de consolidação do tema ESG. “Há um movimento muito grande no ambiente empresarial, que procura se informar a respeito da pauta ambiental e social e da relação que existe entre a governança e essas pautas e entre a necessidade de transparência nas empresas com relação aos cuidados que elas devem ter com o meio ambiente, com as pessoas e com todos os seus stakeholders. Nesse campo do ESG, os empreendedores sociais, os negócios sociais e a filantropia empreendedora têm um papel muito importante a desempenhar, utilizando a sua experiência no cuidado com as pautas relativas ao ESG, cuidado com o meio ambiente e com as práticas que podem ser adotadas pelas empresas para contribuir com a humanidade e com um meio ambiente mais saudável, por meio das suas atividades”.
Aproximação entre empreendedores sociais e empresas
Outra forte tendência, de acordo com James, é a questão da equidade, tanto de gênero, quanto racial, além da busca por pessoas do setor sociais na construção de novos olhares nas empresas. “Temos visto uma movimentação nesses campos, com grande aproximação entre empreendedores sociais e empresas, de modo que a experiência acumulada destes empreendedores de impacto social possa servir dentro das corporações para a construção de políticas, de pautas ESG consistentes e adequadas com a nossa realidade”, destaca o presidente do Instituto Legado.
Transparência em ações de impacto positivo
“Acredito que a principal pauta será ESG, ainda mais voltada para o greenwashing. Já entendemos o valor que ela tem e a necessidade de todos os negócios gerarem impacto positivo a todos os stakeholders, mas essa onda também trouxe empresas, pessoas e organizações a generalizar o tema e achar que qualquer ação pontual é impacto e que qualquer discurso é ESG e assim por diante. Para o próximo ano, a sociedade tende a exigir mais transparência, resultados efetivos de impacto positivo e reporte das organizações e negócios”, afirma a cofundadora da Impacta Mundi, Julyanna Costa.
Financiamento
Colíder da filial de Curitiba (PR) do Capitalismo Consciente, Guilherme Araldi aposta que, no próximo ano, questões de financiamento serão destaque. “Acredito que uma das principais pautas e tendências seja o acesso ao financiamento para negócios de impacto. Ainda existem muitos investidores que se dizem de impacto, mas no fundo não estão realmente dispostos a ver este ‘investimento’ de uma forma diferente. Um conceito que vem ganhando espaço no Brasil é o blended finance, um modelo híbrido de financiamento, que possui fontes tradicionais junto com fontes realmente destinadas a causar impacto, seja de doação ou recursos de filantropia”.
Meio ambiente
Levando em consideração o momento de investimento, cases ambientais também serão pauta. “Acredito que o meio ambiente continue em alta, como tem sido e tende a ser por muito tempo no Brasil, com o marco legal do saneamento e a lei da universalização do saneamento. Presumo que negócios de impacto devam surgir, aproveitando essa avalanche de investimento público e privado”, explica Guilherme.
ESG
A cofundadora da We.Flow Flavia Feliz também citou que o ESG será bastante trabalhado e num efeito cascata, pois o mercado financeiro e a iniciativa privada serão cobrados por comprovar ações ambientais, sociais e de governança, e, consequentemente, iniciativas que recebem esses recursos também terão uma cobrança. “A primeira tendência é a influência do ESG nos empreendimentos, em iniciativas sociais ou de impacto e, por segundo, essa exigência de uma profissionalização maior. O terceiro ponto é a avaliação e a mensuração desse impacto, porque essa onda do ESG traz cobrança de comprovação de métricas e de indicadores”.
Questões climáticas
Outra tendência citada por Flavia são as questões climáticas, principalmente em relação à emissão de carbono e à questão da reciclagem, onde entra a economia circular. “As empresas estão sendo cobradas por monitorarem, comprovarem e compensarem essa emissão de carbono para combater as mudanças climáticas. Outra coisa que vamos ouvir falar é da vida útil de produtos, reciclagem e do reaproveitamento da indústria”.
Bem-estar e saúde mental
Um último ponto citado pela empreendedora social é relacionado à saúde mental no mundo pós-pândemico. “Algo que está se falando muito é o bem-estar e, principalmente, a saúde mental. Tudo que tiver essa relação de apoiar empresas ou grupos a olharem para isso, principalmente com essa visão mais humana nas relações do trabalho. Por fim, a justiça, equidade, diversidade e inclusão”.