Negócio social, que nasceu junto ao Projeto Legado realiza venda de coffee break; A produção é inteiramente feita por alunos da APAE Curitiba
A filantropia também pode ser empreendedora e a APAE Curitiba (PR) é um exemplo disso. Participando do Projeto Legado 2019, a iniciativa foi premiada ao apresentar a APAExonados por Café, um negócio social que gerou oportunidade de inclusão da pessoa com deficiência intelectual no mercado de trabalho por meio da produção de coffee breaks para eventos.
Foi durante um trabalho de pós-graduação feito pela publicitária Andréia Calabria, na época diretora da APAE Curitiba, que a Apaexonados por Café teve seus primeiros respiros, mas foi no Projeto Legado que a ideia começou a ganhar corpo.
No mesmo ano de criação, o primeiro pitch da iniciativa já foi realizado, assim como testes internos – com estudantes e professores da panificação -, resolução de sugestões da banca e a venda do primeiro coffee break para o público externo.
Antes do encerramento do Projeto daquele ano, diversas entregas já tinham sido feitas pelos alunos adultos, que, dentro da associação tem a possibilidade de terem aulas de panificação. Andréia conta que iniciaram no Projeto sem saber ao certo o que fazer, mas que com as aulas da pós e mentorias do projeto foi possível definir a frente de atuação, estruturar a iniciativa e levá-la, já estruturada, para as bancas finais.
“Quando a gente falava em ter um negócio social dentro da instituição, pensávamos em comprar algum produto e vender. O Legado abriu nossos olhos para a estrutura. Fizemos muitas oficinas e conhecemos pessoas que nos ajudaram a ter ideias para colocar o negócio em prática e viabilizar. O Legado trouxe para nós a profissionalização das ideias que tínhamos internamente”, explica.
A APAE é uma organização bastante tradicional no Brasil, que atua na defesa e direitos da pessoa com deficiência, e em Curitiba (PR) existe há mais de 60 anos. Para a diretora, o impulsionamento ganho com o Projeto Legado, foi uma das maiores importâncias para a iniciativa. “O fato de estarmos no Legado trouxe o respaldo para fazer mudanças internas necessárias, porque também foi um paradigma interno. Foi muito importante ter o embasamento necessário e a criatividade, junto com as oficinas e os contatos, para que a gente conseguisse fazer o sonho sair do papel”.
Desafios com a pandemia
Os coffee breaks, que já estavam sendo realizados, eram para cerca de 200 a 300 pessoas, alguns marcados para os meses de março e abril de 2020. Com a chegada da pandemia, os estudantes, que eram maioria grupo de risco, tiveram que parar de ir para a escola. Não dava para contratar mais pessoas e os profissionais que faziam parte também não estavam mais indo. Em primeiro momento, e com a incerteza de duração da pandemia, o projeto não foi paralisado, mas sim readaptado. Em junho do mesmo ano, kits de festa junina foram feitos para serem comercializados via delivery.
Por conta do avanço do vírus e da paralisação dos eventos, a APAExonados por Café teve que ser pausada, mas as expectativas são as melhores. As Escolas Especiais e a Casa Lar retomaram sua normalidade há pouco tempo, o mesmo deve acontecer com o projeto. Segundo Andréia, a previsão de retorno é no primeiro semestre de 2023, já com a casa organizada, após a reestruturação que a APAE passou durante os últimos anos. “A ideia é que a gente consiga retomar, porque para a autoestima dos estudantes, e a possibilidade deles trabalharem com algo que eles já amam, é muito importante”.
“É o dia mais feliz da minha vida”
Mesmo com pouco tempo do projeto em atividade, diversos são os momentos felizes e marcantes que podem ser contados por Andréia. Para ela, o que mais marcou foi ver a alegria dos estudantes ao ganharem o Prêmio Legado e verem que realmente podiam trabalhar. “O Prêmio Legado é apenas um, que ficou na panificadora, mas mandamos fazer medalhas para os participantes da panificação poderem levar para casa. Um dos alunos falou pra nossa nutricionista que ‘É o dia mais feliz da minha vida. Ganhei um prêmio de 10 mil reais para a APAE’. Foi muito marcante e o impacto muito importante para eles”.
A diretora conta que existia uma expectativa de que esses momentos acontecessem, mas não sabiam quando ou quais seriam. Ela afirma que ao ouvir relatos dos estudantes, teve a certeza de que já tinha valido a pena. “Via eles falando de como melhoraram, a alegria, autoestima e como eles conseguiram trabalhar e fazer um trabalho com excelência”.
Conscientização em meio ao projeto
Junto com a APAExonados por Café, eram servido detalhes, fotos dos estudantes na produção e a importância do mercado de trabalho. “A ideia é que fosse também um momento de conscientização para podermos entrar nas empresas, porque às vezes a empresa não vai ajudar com a doação, mas quando ela conhece o trabalho da instituição, ela pode dar um suporte diferente. Muita gente não achava que a pessoa com deficiência intelectual pudesse trabalhar, então, o café era um instrumento para quebrar essa ignorância”, afirma Andréia.
Uma das maiores produções foi para o ‘Legado Experiência 2019’. Nesta ocasião, o time teve que aumentar e contar com a ajuda de outras áreas da APAE, pois a encomenda era para 1.500 pessoas. Andréia define esse momento como desafiador, mas, no final, deu tudo certo.
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