Vivemos em uma sociedade em que o processo de evolução cultural exige de todos nós muita tolerância e respeito. Compreender as diversidades e respeitar o diferente é a fórmula para um mundo melhor e mais inclusivo. Quando se fala em inclusão, é preciso pensar que ela não é um privilégio daqueles denominados deficientes ou pessoas fora do padrão exigido, mas sim de toda a sociedade.
As pessoas com deficiência, especificamente, não querem mais ser alvos do assistencialismo negativo, que cultua a penalidade do “coitadismo” medieval. Elas buscam autonomia e independência, querem ser vistas por suas qualidades e defeitos, sem demagogias ou “achismos”. Desejam, em verdade, poder exercer sua cidadania e responsabilidade social no meio em que vivem, com dignidade e sem romantismo da deficiência. Não querem ser vistas como super-heróis, só pedem respeito, pois são indivíduos protagonistas de sua própria história, têm desejos e anseios, medos e esperanças como qualquer ser humano.
É necessário, com urgência, compreender que deficiência está relacionada com o meio social e não com patologias, em que o indivíduo é classificado como capaz ou incapaz. Todos são capazes de realizar quaisquer atividades dentro de nossas aptidões e habilidades, sem distinções de qualquer natureza.
Para exercer seus direitos, efetivamente, as pessoas com deficiência precisam de uma sociedade mais inclusiva e acessível. A acessibilidade a que nos referimos não é somente arquitetônica, mas uma acessibilidade atitudinal efetiva, isto é, a rampa proporcionará a um cadeirante chegar ao guichê, a pista tátil ajudará o deficiente visual chegar ao mesmo local, assim como uma comunicação mais eficaz para o deficiente auditivo permitirá o mesmo acesso. A acessibilidade atitudinal, por sua vez, garantirá um atendimento de excelência a essas pessoas, portanto, o mesmo serviço de forma igualitária para todos. Ao refletir sobre o atendimento de excelência atitudinal, estamos tratando as pessoas com deficiência como consumidores, pacientes, alunos e, principalmente, como cidadãos.
Neste momento, desafio você, leitor, a pensar: será que a indústria da beleza é acessível a todas as pessoas? Por que uma mulher com deficiência visual não pode aprender a se maquiar sozinha ou, até mesmo, ser uma profissional da área da maquiagem? Pense que ela só não enxerga! Antes de ser cega, ela é mulher, é profissional, é universitária, é consumidora e, portanto, deve ser compreendida como tal.
A beleza é vista pela sociedade de forma pejorativa, fútil, sem expressão do ser humano, virou um artigo de luxo para poucos. Mas a beleza em todos os sentidos tem que ser resgatada como algo de dentro para fora, que vai além da estética e que traz consigo o empoderamento e a elevação da autoestima, podendo ser um instrumento de inclusão social efetiva, permitindo ao ser humano sentir-se mais independe, autônomo e seguro.
Estamos em um momento global de compreensão dos direitos humanos. É preciso abrir a mente e buscar o reaproveitamento das pessoas enquanto pessoas, sem estereótipos, sem conceitos preconcebidos. Num país como o Brasil, onde 6,2% da população possui algum tipo de deficiência, é preciso dar voz e vez a este público e só é possível fazê-lo por meio da comunicação. É essencial ouvir uma pessoa com deficiência, para entender quais são suas reais necessidades, e todos que aclamam uma sociedade mais evoluída, onde a palavra inclusão não é uma falácia sem importância, mas possui sentido e, principalmente, atitude coletiva.
Danielle Franco, coach executiva, graduada em gestão de pessoas, contadora e professora de maquiagem para pessoas com deficiência. É idealizadora, cofundadora e presidente do Instituto Sensorial Brasileiro, que tem o propósito de proporcionar a inclusão sociocultural e assistencial de pessoas com deficiência, de forma igualitária.
Helena Regina Góes, aluna de direito, palestrante e especialista em artigos científicos da pessoa com deficiência e presidente do conselho consultivo do Instituto Sensorial Brasileiro.